Papoila-brava (Papaver rhoeas). Foto: George Chernilevsky/WikiCommons

Estudo revela que plantas estão a florir mais cedo

A imprevisibilidade do clima está a fazer com que as plantas herbáceas dêem flor mais cedo no ano, mas isso não afecta o seu sucesso reprodutivo, revela um novo estudo científico de investigadores espanhóis.

 

Durante quatro anos, investigadores do Museu Nacional espanhol de Ciências Naturais (MNCN-CSIC) estudaram a forma como duas espécies de plantas herbáceas – a Onobrychis viciifolia e a papoila-brava (Papaver rhoeas) – estão a ser afectadas por um clima em mudança.

Para isso, os investigadores fizeram experiências onde simularam diferentes cenários climáticos e avaliaram os seus efeitos naquelas duas espécies.

 

Onobrychis viciifolia. Foto: MNCN/CSIC

 

Entre as conclusões do estudo, publicadas num artigo da revista Proceedings of the Royal Society B, está o facto de as plantas acelerarem a sua floração e reprodução, revela o MNCN em comunicado enviado hoje à Wilder.

Contrariamente ao esperado, esta antecipação na floração aumentou o êxito reprodutor das plantas e desencadeou um maior crescimento populacional.

Normalmente relacionamos as alterações climáticas ao aumento das temperaturas e à maior concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Ainda assim, as alterações climáticas actuais implicam também uma menor previsibilidade das condições ambientais.

“Cada vez conseguimos prever com menos exactidão quando vai chover e quando iremos dispor dessa água. Isto afecta os seres vivos, cada vez mais sujeitos a maiores desafios para crescer e se reproduzir”, explicam os investigadores em comunicado.

Especialmente as plantas, seres vivos que não se podem deslocar, nem mesmo quando as condições não são as adequadas.

 

Papoila-brava (Papaver rhoeas). Foto: George Chernilevsky/WikiCommons

 

Os estudos teóricos indicam que ambientes menos previsíveis favorecem o antecipar da floração, desencadeando um menor êxito reprodutivo (como por exemplo serem produzidas menos sementes) e menor sobrevivência.

Mas não foi isso que concluiu este estudo. “As plantas geraram mais sementes e sementes mais pesadas que produziram um maior crescimento populacional”, explicou Patrick S. Fitze, coordenador do estudo e investigador do MNCN.

“Ao florescer antes, as plantas aumentaram o seu período reprodutivo, aumentando assim as possibilidades de polinização e de produzir sementes.”

Além disso, os investigadores descobriram que esta antecipação foi transmitida às gerações seguintes e que isso foi crucial para a sua adaptação. “É como se os progenitores tivessem preparado os seus descendentes para as condições futuras”, comentou, em comunicado, o investigador do MNCN Martí March-Salas.

As plantas tiveram respostas transgeracionais rápidas, principalmente em relação às condições do clima a que estiveram submetidas durante as primeiras fases de vida. Isto sugere, acrescentam os investigadores, que as primeiras fases da vida são cruciais para o desenvolvimento futuro da planta.

“Isto é importante e acreditamos que deve ser tido em conta nas teorias ecológicas e evolutivas e nos modelos que se utilizam para prever os efeitos das alterações climáticas”, comentou Patrick S. Fitze.

March-Salas considera estes resultados “promissores” porque permitiram à equipa “comprovar que as plantas estudadas se adaptaram às alterações melhor do que o esperado”.

Ainda assim, alertou, “a sua sobrevivência vai depender também da velocidade de reacção de cada espécie”.

“Dado que as condições climáticas são cada vez mais extremas, é fácil que ultrapassem os limites de tolerância e que as plantas se vejam drasticamente afectadas pela imprevisibilidade climática”, sublinhou March-Salas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.