Estudo revela que pradarias marinhas da Ria de Aveiro estão a recuperar

Com base em fotografias aéreas e drones, investigadores da Universidade de Aveiro mapearam as pradarias marinhas da Ria e descobriram uma tendência de recuperação entre os anos de 2005 e 2014.

A Ria de Aveiro é uma das áreas de Portugal com as maiores pradarias marinhas, ou seja, povoações de ervas marinhas que ocorrem quase sempre em substractos móveis, como areia ou lodo. As outras áreas são a Ria Formosa e dos estuários do Sado, Tejo e Mondego.

Mas, nas últimas décadas, estas têm sido ameaçadas pelas dragagens e poluição.

Num artigo científico publicado este mês na revista Scientific Reports, investigadores da Universidade de Aveiro (UA) e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) concluíram que as pradarias marinhas da Ria de Aveiro recuperaram entre 2005 e 2014. Esta recuperação, defendem, “estará relacionada com o reequilibro do ecossistema após as dragagens entre 1996 e 1998”, segundo um comunicado enviado hoje à Wilder.

Para chegar a esta conclusão, os investigadores avaliaram a distribuição espacial e o stock de Carbono Azul (Blue Carbon) armazenado nas pradarias marinhas da planta aquática Zostera noltei, constituinte do moliço.

O Carbono Azul – o carbono armazenado no oceano e em ecossistemas costeiros como pradarias marinhas, sapais e mangais – ajuda a reduzir os gases com efeito de estufa da atmosfera, como o dióxido de carbono, salienta Ana Sousa, investigadora do CESAM e primeira autora do artigo.

Os investigadores utilizaram um drone para realização de fotografia aérea e mapeamento de pradarias marinhas em 2014 e fotografia aérea realizada em 2003-2005. Além disso foram realizadas amostragens no terreno para estimar o stock Carbono Azul.

“Os resultados obtidos mostram uma tendência de recuperação das pradarias marinhas nos últimos anos, contrariando a tendência global de declínio, mas em concordância com as tendências identificadas por outros estudos regionais realizados noutros sistemas europeus”, acrescenta o comunicado.

Ainda assim, os investigadores alertam para o efeito de uma nova fase de dragagens na Ria de Aveiro, área classificada como Biótopo Corine, Zona de Protecção Especial e Rede Natura 2000 ao abrigo da Diretiva Aves e da Diretiva Habitats.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.