lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Exposição mostra que Europa tem espaço para os grandes carnívoros

O lobo, o lince euro-asiático, o urso-pardo e o glutão são os grandes carnívoros europeus protagonistas de uma exposição no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, patente até 26 de Julho. A iniciativa quer mostrar que a coexistência connosco é possível.

 

A exposição “Coexistir com os Grandes Carnívoros. O desafio e a oportunidade”, inaugurada a 18 de Maio naquele museu, em Lisboa, consiste em vários painéis com informação reunida por vários peritos internacionais sobre as quatro grandes espécies de carnívoros que vivem na Europa: Urso-pardo (Ursus arctos), Lobo (Canis lupus), Glutão (Gulo gulo) e Lince euro-asiático (Lynx lynx).

“É muito importante para nós sabermos que estas espécies existem e o que está a ser feito noutros países para ultrapassar os problemas de coexistência”, disse à Wilder Francisco Petrucci-Fonseca, presidente do Grupo Lobo e coordenador nacional do projecto LIFE MED-WOLF – Boas práticas para a Conservação do Lobo em Regiões Mediterrânicas.

 

Lobo ibérico, Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard
Francisco Petrucci-Fonseca

 

Tanto mais que “os problemas que nós enfrentamos são os mesmos do resto da Europa, não estamos isolados”, acrescentou, falando junto a um exemplar de lobo-ibérico que faz parte da exposição.

A exposição “Coexistir com os Grandes Carnívoros. O desafio e a oportunidade”, que será itinerante depois de 26 de Julho, lança o mote para uma outra a inaugurar no mesmo museu no final do ano, “Europa Selvagem”.

A caça e os lobos

Actualmente existem dez populações de lobo na Europa. “Neste momento estão a recuperar, apesar de a população da Serra Morena estar quase extinta. A portuguesa também precisa de ajuda”, diz-nos Valeria Salvatori, coordenadora internacional do projecto LIFE MED-WOLF, à margem da inauguração da exposição.

Valeria vem de Itália, onde existem duas populações de lobo mas nenhuma é monitorizada. Trabalha com grupos de interesse no terreno, principalmente criadores de gado, para promover um nível de coexistência aceitável. “O lobo é uma espécie muito carismática mas há dois tipos de reação”, conta. “As pessoas nas cidades gostam do lobo; as pessoas das zonas rurais têm reações adversas, especialmente os criadores de gado que se sentem afectados negativamente e precisam de ajuda.” Ainda assim, acrescenta, “a atitude geral é de respeito. Em Itália, ninguém diz que mataria um lobo”.

 

Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard
A exposição estará no museu até 26 de Julho, depois viajará pelo país

 

Quanto à questão da introdução de quotas de caça para gerir as populações de lobo e controlar reações mais negativas, Valeria não tem dúvidas. “Não acredito na caça com quotas como medida de conservação do lobo. As quotas teriam de ser muito reduzidas para garantir a variabilidade genética de uma população e isso não seria suficiente para acabar com as más reações quanto ao lobo”, explica. “Os conflitos não se resolvem com quotas baixas. A caça não pode ser uma solução de conservação, só de gestão.”

A população de lobo-ibérico (Canis lupus signatus), espécie protegida em Portugal desde 1988, está estimada em 2800 animais, 300 dos quais em Portugal, segundo o último censo nacional ao lobo-ibérico feito há mais de dez anos.

[divider type=”thin”]Saiba onde vivem as dez populações de Lobo na Europa:

1. Noroeste da Península Ibérica (Espanha e Portugal)

2. Serra Morena (Sul de Espanha)

3. Alpes (França, Itália e Suíça)

4. Itália – Península Itálica

5. Cárpatos – República Checa, Eslováquia, Sul da Polónia, Ucrânia, Roménia, Sérvia e Hungria

6. Dinara-Balcãs – Eslovénia, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Albânia, República da Macedónia, Grécia e Bulgária

7. Carélia – Finlândia e Rússia Ocidental

8. Báltico – Rússia, Estónia, Letónia, Lituânia, Bielorrússia, Nordeste da Polónia e Ucrânia

9. Alemanha-Polónia – Leste da Alemanha e Polónia Ocidental

10. Escandinávia – Noruega e Suécia

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.