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Ribeira. Foto: Helena Geraldes (arquivo)

Fapas e Zero avisam que um terço dos habitats em Portugal estão ameaçados

Cerca de 31% dos 211 habitats terrestres e marinhos presentes em Portugal estão ameaçados a nível europeu, revela a primeira Lista Vermelha de Habitats publicada agora pela Comissão Europeia. É necessária mais investigação sobre o estado dos habitats em território português, alertam as duas associações.

 

De acordo com o Fapas (Fundo para a Protecção dos Animais Selvagens) e com a Zero (Associação Sistema Terrestre Sustentável), que analisaram caso a caso a informação da nova Lista Vermelha sobre os 490 habitats avaliados a nível europeu, em causa estão habitats que têm a categoria de Vulnerável, Em Perigo ou Criticamente em Perigo, e que foram identificados para Portugal.

São os habitats terrestres que despertam mais preocupação: cerca de 37% dos que foram identificados para o território português estão classificados na Lista Vermelha europeia como ameaçados, com destaque para as tipologias “Turfeiras” (80% ameaçados), “Água doce” (42,9% ameaçados), “Prados e pastagens” (50% ameaçados) e “Costeiros” (33% ameaçados).

No que respeita à situação dos habitats terrestres em Portugal, sabe-se que “perto de metade […] sofreu uma regressão em termos de área de distribuição”, avisam as duas associações ambientais. Além disso, “em mais de 80% dos casos a qualidade do habitat decresceu ou não existe informação disponível”.

A situação parece um pouco melhor no que respeita aos 93 habitats identificados para as áreas marinhas da Costa Ibérica (Portugal Continental) e Macaronésia (Madeira e Açores), mas ainda assim, quase um quarto destes (23%) estão também sob ameaça.

“As áreas estuarinas, as áreas costeiras pouco profundas e outras cujos substratos rochosos ficam a descoberto durante a maré baixa são aquelas que suscitam maior preocupação em termos de conservação”, adiantam o Fapas e a Zero.

 

Falta de informação

As duas associações constatam ainda que a situação de 30% dos habitats que foram identificados em território português é actualmente desconhecida, uma vez que não existe informação sobre os mesmos, de acordo com os dados divulgados pela nova Lista Vermelha europeia. “Esta é uma situação que deve continuar a preocupar os decisores públicos”, sublinham.

“Não se pode fazer conservação em Portugal sem conhecer o que cá existe”, afirmou Paulo Lucas, da direcção da Zero, contactado pela Wilder.

“O que se tem de fazer é um trabalho de investimento público. O Estado português tem de aproveitar os fundos da União Europeia e trabalhar com base nestas informações que estão a surgir”, acrescentou o mesmo responsável, que critica: “Estamos a criar instrumentos que prejudicam actividades económicas, como as áreas protegidas, quando em concreto não sabemos o que existe e o que é necessário preservar.”

A agricultura intensiva e extensiva, a urbanização e infraestruturas de transportes, as alterações dos sistemas naturais e do clima e ainda a silvicultura são as principais ameaças que podem causar a degradação ou regressão dos habitats, referem as duas associações.

Já nas áreas costeiras marinhas, referem também outras ameaças importantes. Desde a poluição, à utilização desadequada dos recursos biológicos na pesca e na aquacultura, até às modificações dos sistemas naturais e às alterações climáticas.

A nova Lista Vermelha de Habitats europeia inclui o estatuto de todos os habitats naturais e seminaturais terrestres, água doce e habitats marinhos, numa abordagem que vai além dos habitats que estão legalmente protegidos pela directiva comunitária.

Em causa estão um total de 490 habitats marinhos, terrestres e de água doce da União Europeia, Islândia, Suíça e Noruega, que foram avaliados. Dos 233 habitats terrestres identificados para os 28 Estados-membros europeus, 37% estão ameaçados, indicam a Zero e o Fapas. Já dos habitats marinhos, 19% estão na mesma situação.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.