lobo ibérico
Lobo ibérico conservado no Museu de História Natural, Lisboa. Foto: Joana Bourgard

Félix Rodríguez de la Fuente, o grande naturalista, desapareceu há 40 anos

A sua filha Odile recorda o seu legado no livro “Félix, um homem na terra”, lançado este mês, e a RTVE preparou uma programação especial. A 14 de Março cumprem-se 40 anos após a morte do grande naturalista espanhol.

 

Uma “figura excepcional e irrepetível”, um incansável defensor da natureza e o “amigo do lobo e das espécies malditas”. É assim que o grande naturalista é descrito pela WWF de Espanha, organização que Félix Rodríguez de la Fuente (1928 – 1980) ajudou a fundar nos anos 60 do século XX.

“A sua paixão e carisma pessoal tornaram-no numa referência para o público, num íman para os mais jovens e num mestre da comunicação (…), capaz de convencer o Governo da época a aprovar as nossas primeiras leis de protecção da natureza”, escreve a WWF Espanha, em comunicado.

Um dos jovens que mudou para sempre com Félix foi Juan Varela, biólogo e um dos mais reconhecidos pintores espanhóis de vida selvagem. Varela foi colaborador de Félix. “Com Félix comecei a minha carreira profissional como ilustrador na enciclopédia Fauna Ibérica e colaborei em todos os seus projectos editoriais até à sua morte”, contou à Wilder numa entrevista publicada em 2015. “A minha colaboração com ele condicionou o meu futuro profissional.”

Na década de 60, Félix Rodríguez de la Fuente era um jovem naturalista conhecido como o “Amigo dos Animais” que cativava com as suas participações num dos mais populares programas de televisão, Fin de Semana, e com os seus artigos sobre animais e natureza na revista de domingo do jornal ABC.

Em 1968 nasceu a ADENA – WWF Espanha e Félix era o seu vice-presidente. Nesse mesmo ano ficou à frente do programa de televisão Fauna. Em 1973 foi a vez da famosa série Hombre y la Tierra, que o tornou numa das personalidades mais queridas e populares daquele país.

A WWF Espanha recorda que uma das maiores paixões de Félix foram as aves de rapina, mas foi ao lobo – a espécie mais odiada e perseguida na Espanha rural da época – que Félix dedicou o seu maior esforço. Enquanto na televisão contava “a verdade do lobo”, na ADENA – WWF fazia campanha para convencer o Governo de Madrid de que a espécie deveria ter um estatuto mínimo legal de protecção.

“Graças a ele, o lobo, encurralado então no Noroeste da Península Ibérica e em escassos enclaves no Sul, não chegou a extinguir-se, como já tinha acontecido em quase toda a Europa Ocidental.”

Além disso, Félix trabalhou sem descanso para formar a nova geração de jovens espanhóis no amor e respeito pela natureza.

Muitos são aqueles que ainda se recordam dos seus programas de rádio e televisão, dos seus livros e reportagens em jornais e revistas.

Para relembrar este legado, a sua filha Odile Rodríguez de la Fuente, bióloga, divulgadora ambiental e principal divulgadora da sua obra, lançou a 3 de Março deste ano o livro “Félix, un hombre en la tierra”, pela editora GeoPlaneta.

O livro, com 384 páginas e organizado em 10 capítulos, recorda as principais linhas de pensamento do naturalista.

Para isso, Odile recorre, por exemplo, a intervenções feitas por Félix na rádio e na televisão e às notas que acompanhavam os esboços feitos nos seus famosos cadernos de campo.

“O meu pai é a melhor fonte para se explicar a si próprio”, disse Odile, citada pelo jornal espanhol La Vanguardia.

Para homenagear Félix, o canal de televisão RTVE preparou uma programação especial.  Vai ser reposta a série El hombre y la tierra, a partir de 14 de Março, dois episódios a cada sábado. A 15 de Março está prevista a emissão do documentário Imprescindibles: El animal humano, produção da RTVE e com testemunhos da sua filha Odile, da sua mulher Marcelle Parmentier, dos seus colegas de trabalho e vários cientistas e naturalistas.

No canal Youtube de Arquivo da RTVE haverá também uma programação especial com o streaming dos 124 episódios da série El hombre y la tierra, a partir de 13 de Março.

Félix Rodríguez de la Fuente faleceu a 14 de Março de 1980 num acidente com uma aeronave no Alasca.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.