Vaca-loura encontrada em Aldeia de Couce, concelho de Valongo. Foto: Catarina J. Pinho

Fim-de-semana da vaca-loura: Cidadãos ajudaram a encontrar 251 escaravelhos

Foram 177 os participantes que se juntaram às actividades do fim-de-semana da vaca-loura, que se realizou no início de Julho em localidades onde existe este espécie protegida.

 

As 15 iniciativas que marcaram este fim-de-semana, que se realizou pelo segundo ano consecutivo, tiveram lugar entre os dias 3 e 5 de Julho, desde o Mosteiro de Tibães, em Braga, até à Quinta da Regaleira, na vila de Sintra.

O objectivo foi chamar a atenção e ensinar a reconhecer a vaca-loura (Lucanus cervus) – o maior dos escaravelhos da fauna portuguesa, protegido por leis comunitárias – e também outros escaravelhos para os quais há ainda pouca informação em Portugal.

Nas acções estiveram interessados de todas as idades, entre os 8 e os 65 anos, contou à Wilder o coordenador do projeto VACALOURA.pt, João Gonçalo Soutinho. O número de participantes, que incluindo monitores somou 177, ficou aliás acima das expectativas.

 

Alguns dos participantes em busca da vaca-loura em Canelas, Estarreja. Foto: Diego Alves

 

“Tentámos limitar aos 10 participantes por acção e ultrapassámos esse limite nalguns casos, quando conseguíamos ter mais monitores disponíveis e assim dividir os grupos”, comentou este responsável. “Agora nesta altura de desconfinamento estávamos um pouco receosos sobre como iria ser a reacção dos participantes, e foi fabulosa!”

Entre a realização de palestras, visitas a locais onde se sabe que há vacas-louras e percursos pedestres, quem ali esteve ajudou a encontrar um total de 251 escaravelhos de oito espécies diferentes. Desses, quase metade – 123 dos exemplares registados – eram vacas-louras, mesmo incluindo algumas mortas.

Outros 36 eram longicórnios-dos-carvalhos (Cerambyx cerdo), outra espécie protegida pela legislação europeia, pois “tal como a vaca-loura depende de carvalhos ou outras árvores do género Quercus de grande porte para sobreviver.” “O desaparecimento destas árvores acaba por ser a principal razão para o declínio destes organismos.”

 

Longicórnio-dos-carvalhos. Foto: Diego Alves

 

João Gonçalo Soutinho acredita também que o tempo foi um excelente aliado: “Tivemos noites com temperaturas ótimas para estar no exterior e para observar muitos escaravelhos.”

Para este ano, adianta, o objectivo da equipa que coordena é juntarem-se ainda a várias acções – como um bioblitz em Vouzela a 18 de Julho – e realizarem mais algumas actividades em Agosto, em especial ligadas à vaca-ruiva (Lucanus barbarossa).

 

“Melhor ano de sempre”

Por outro lado, e apesar da pandemia, 2020 está a ser “o melhor ano de sempre” para o projecto, sublinha o mesmo responsável. “Este ano criamos uma nova dinâmica, envolvendo novas pessoas no projeto que trouxeram consigo as suas comunidades e projetos pessoais.”

Em causa está a nova Rede de Embaixadores da vaca-loura, que reúne dezenas de naturalistas com o objectivo de ajudar a conservar esta e outras espécies de animais e plantas nas suas localidades. “Graças a isto temos conseguido crescer imenso como projeto, chegando a mais pessoas e consequentemente temos recebido muitos mais registos do que o normal.”

Este ano, o projecto já recebeu mais de 1000 registos de vacas-louras observados em Portugal, quando em anos anteriores esse número não ultrapassava os 700.

A equipa conseguiu também um apoio do Instituto Português do Desporto e da Juventude para apoiar jovens na monitorização da espécie. “Com isso temos neste momento mais de 40 voluntários em todo o país a monitorizar as populações de vacas-louras das suas localidades, resultados muito satisfatórios.”

Para já, está a ser também lançada uma campanha sobre a vaca-ruiva, “um parente pobre da vaca-loura, com poucos registos em Portugal mas que tem, se calhar, um interesse ainda maior em conservar.”

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez

Saiba onde e como ver vacas-louras em Portugal.

 

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.