Fique a saber por que têm estas lagartixas tantas cores brilhantes

Um estudo científico publicado a 28 de Fevereiro na revista PNAS descobriu quais os genes que controlam as cores brilhantes da lagartixa-dos-muros.

 

A lagartixa-dos-muros (Podarcis muralis), é um excelente exemplo de como os répteis podem ser coloridos. Na verdade, numa mesma população é possível encontrar animais cuja cor da garganta e ventre varia entre as cores branca, laranja/vermelha brilhante ou amarela brilhante. Sabe-se também que animais de diferentes cores diferem noutras características, como no tamanho, capacidade de combate e estratégias reprodutivas.

 

Uma lagartixa-dos-muros e suas cores contrastantes entre o dorso e o ventre. Foto: Guillem Pérez i de Lanuza

 

Mas, como é que estes répteis conseguem gerar o seu grande conjunto de cores brilhantes? Como é que é possível encontrar tanta diversidade dentro de uma única população de uma mesma espécie?

Foi para responder a estas perguntas que uma equipa internacional, liderada por investigadores do CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) e da Universidade de Uppsala (Suécia), recorreu à sequenciação de um grande número de genomas de lagartixas aliada a análises bioquímicas e de microscopia.

Os resultados desta investigação revelam que os genomas de lagartixas com diferentes cores são virtualmente idênticos com excepção de dois genes, conhecidos por SPR e BCO2. Estes estão envolvidos na produção de dois tipos de pigmentos, as pterinas e os carotenóides, sendo esta a primeira vez que estes genes são associados à pigmentação em répteis.

Segundo os investigadores, as tonalidades laranjas e avermelhadas estão associadas ao gene SPR, enquanto que as tonalidades amarelas são explicadas pelo gene BCO2.

 

Lagartixa-dos-muros. À esquerda, a coloração do dorso que permite a este réptil camuflar-se ao ambiente rochoso, e à direita exemplos dos diferentes padrões de cores da zona da garganta e do ventre. Fotos: Guillem Pérez i de Lanuza e Javier Ábalos

 

“As alterações genéticas associadas à variação de cor surgiram há milhões de anos”, disse, em comunicado, Pedro Andrade, investigador do CIBIO- InBIO e primeiro autor do artigo. “Diferentes processos, como a seleção natural e a hibridação, contribuem para a evolução do padrão de cores nestes répteis e para a sua grande variação nas populações”, acrescentou.

Miguel Carneiro, investigador do CIBIO-InBIO e autor correspondente do artigo, explicou que, “na natureza, quando indivíduos de diferentes populações ou espécies diferem em múltiplas características, a expectativa é que estejam envolvidos muitos genes. Por isso, para nós foi uma surpresa ver que nestes lagartos as diferenças de cor e outras características associadas são em larga medida explicadas por pequenas regiões do genoma que contêm apenas dois genes”.

O artigo sugere que os genes identificados levam a outros efeitos secundários. “Estes genes de pigmentação, em particular o gene SPR, podem levar a diferenças no funcionamento do cérebro, o que explicaria as diferenças de comportamento entre lagartos com cores diferentes”, disse Catarina Pinho, investigadora do CIBIO-InBIO e co-primeira autora do artigo.

A equipa de investigadores acredita ter aberto o caminho para futuros estudos sobre a origem das cores em diferentes organismos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.