Foto: Anja Odenberg/Pixabay

Florestas que se regeneraram desde 2000 ocupam área maior do que a França

Quase 59 milhões de hectares de floresta ressurgiram de forma natural nos últimos 20 anos, segundo um estudo realizado no âmbito da iniciativa Trillion Trees.

O projecto Trillion Trees (‘um bilião de árvores’, em português) é uma parceria entre a Birdlife International, a Wildlife Conservation Society e a WWF. O objectivo é ajudar a proteger e a restaurar as florestas do mundo atingindo um bilião de árvores até 2050, mas com “as árvores certas nos locais certos”.

A nova área de floresta agora detectada tem potencial para armazenar o equivalente a 5,9 gigatoneladas de dióxido de carbono – mais do que as emissões anuais dos Estados Unidos, indicam as organizações ambientalistas. Em causa estão áreas onde as árvores voltaram a crescer com pouca ou mesmo nenhuma intervenção humana.

“O estudo foi desenhado para fornecer mais informação aos planos de reflorestação mundiais, providenciando uma ideia das zonas onde concentrar os esforços de restauro poderá ser mais benéfico”, explica uma nota de imprensa. A investigação fez parte de um trabalho de pesquisa que demorou mais de dois anos, e que envolveu a análise de mais de 30 anos de imagens de satélite e a consulta de especialistas de mais de 100 entidades, em 29 países diferentes.

A Floresta Atlântica, no Brasil, é um dos casos destacados pela equipa. Ali, calcula-se que desde 2000 foram reflorestados cerca de 4,2 milhões de hectares – uma área de tamanho semelhante à Holanda – devido a várias causas: além dos projectos de reflorestação que avançaram no terreno, também a aplicação de práticas mais responsáveis pela indústria e uma tendência de migração dos habitantes locais para as cidades.

As florestas boreais do norte da Mongólia são outra área do mundo onde a renascimento de árvores parece estar a acontecer: estima-se que ali cerca de 1,2 milhões de hectares de floresta reapareceram nos últimos 20 anos. A África Central e as florestas boreais do Canadá são outras zonas onde os especialistas notam uma tendência semelhante.

“A ciência é clara: se queremos evitar alterações climáticas perigosas e reverter a perda de natureza, temos de travar tanto a desflorestação como restaurar as florestas naturais”, indicou William Baldwin-Cantello, director da WWF para a área de soluções baseadas na natureza.

“Sabemos há muito tempo que a regeneração natural da floresta é muitas vezes mais barata, mais rica em carbono e melhor para a biodiversidade do que florestas que são activamente plantadas, e esta pesquisa diz-nos onde e porque é que essa regeneração está a acontecer, e como é que podemos recriar essas condições noutros lados.”

Nada é garantido

No entanto, avisa o mesmo responsável, todos os anos os efeitos da desflorestação tomam conta de milhões de hectares, muitos mais do que a área que vai sendo regenerada. Os estudos já realizados apontam para 386 milhões de hectares de árvores perdidos a nível mundial entre 2001 e 2019 – mais de sete vezes a área que terá sido reflorestada ao longo desse período.

Além da inclusão de metas de reflorestação nos planos de acção climática, defende a equipa, devem ser combatidas as causas da perda de floresta. No Reino Unido, por exemplo, isso passa “pela criação de leis internas fortes para evitar que a nossa comida esteja a causar a desflorestação noutros lados”, apela Baldwin-Cantello.

Em causa está por exemplo o consumo de produtos como a soja e o óleo de palma em muitos países – incluindo Portugal – que está a ter um impacto forte sobre as florestas dos trópicos, alertou em Abril um relatório da WWF.

A equipa do projecto One Trillion Trees apela também à colaboração de especialistas, por todo o mundo, para ajudarem a validar e a enriquecer a informação obtida até agora.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.