Floresta Amazónica. Foto: Rosa Maria/Pixabay

Fogo consome a floresta da Amazónia

Entre Janeiro e 18 de Agosto, o número de queimadas aumentou 82% em relação ao período homólogo de 2018, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) revelados esta semana.

Gerados a partir de imagens de satélite, os dados do Inpe apontam para um aumento de 82% das queimadas em relação a 2018. Este ano estão registados 71.497 focos de Janeiro a 18 de Agosto, contra os 39.194 registados no mesmo período de 2018, citou o jornal brasileiro O Globo.

Este é o maior número de focos dos últimos sete anos.

Segundo o Inpe, metade deles (52,5%) foi registada na floresta da Amazónia, a maior floresta tropical do mundo. Os outros biomas mais afectados são o cerrado (com 30,1%), seguido da Mata Atlântica (10,9%).

Os cinco estados brasileiros que registaram o maior aumento no número de queimadas no Brasil desde o início do ano, em comparação com o mesmo período do ano passado são Mato Grosso do Sul (com um aumento de 260% em relação a 2018), Rondónia (198%), Pará (188%), Acre (176%) e Rio de Janeiro (173%).

Alberto Setzer, investigador do Inpe, disse ao jornal O Globo que as queimadas na região do Mato Grosso são comuns, mas “este ano queimam mais do que em anos anteriores”. O calor e o clima seco contribuem para espalhar o fogo que é causado, na sua opinião, por acção humana não intencional ou criminosa. “As queimadas são todas de origem humana, umas propositadas e outras acidentais, mas sempre pela acção humana”, acrescentou.

Segundo Setzer, tanto na Amazónia como no Cerrado, o fogo é usado para a expansão da fronteira agrícola e para a manutenção de áreas que já foram desmatadas.

Em apenas dois dias, 18 e 19 de Agosto, o Brasil registou 5.253 focos de queimadas, detectados pelo sistema do Inpe. 

A 19 de Agosto, São Paulo, Mato Grosso do Sul e o Norte do Paraná viram-se envolvidos em nuvens de cinzas, arrastadas por mais de 2.500 quilómetros. Segundo aquele jornal brasileiro, por volta das 15h00 (hora local), uma forte névoa escura cobriu a capital paulista, deixando a cidade na escuridão.

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a situação foi causada pela junção do fumo emitido pelos incêndios florestais, incluindo na região amazónica, com uma frente fria com ventos marítimos originada do Sul do Brasil.

A organização Greenpeace no Brasil lembra, em comunicado, que “na Amazónia brasileira, as taxas de alerta de desmatamento estão ligadas à incidência de fogo, que é uma das principais ferramentas usadas para desmatar”.

Nos dias 10 e 11 deste mês, fazendeiros anunciaram que fariam um “dia de fogo”, noticiaram jornais locais e a Folha de São Paulo. “A acção coordenada fez o número de focos de calor aumentar 300% de um dia para o outro na principal cidade da região, Novo Progresso”.

“Os que desmatam e destroem a Amazónia sentem-se encorajados pelo discurso e pelas acções do Governo Bolsonaro que, desde que tomou posse, tem praticado um verdadeiro desmonte da política ambiental do país”, disse Danicley Aguiar, da campanha Amazónia da Greenpeace.

Por seu lado, o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro acusou hoje organizações não governamentais de atearem incêndios na Amazónia, depois de o Governo ter cortado financiamento, noticiou a agência de notícias Reuters. Nas suas declarações não apresentou quaisquer provas.

“As queimadas e as alterações climáticas operam num ciclo vicioso”, alerta a Greenpeace. “Quanto mais queimadas, mais emissões de gases de efeito estufa e, quanto mais o planeta aquece, maior será a frequência de eventos extremos, tais como as grandes secas que passaram a ser recorrentes na Amazónia.”

Além das emissões, “o desmatamento colabora diretamente para uma mudança no padrão de  chuvas na região, que amplia a duração da estação seca, afectando ainda mais a floresta, a biodiversidade, a agricultura e a saúde humana”.

A região da Amazónia alberga 600 tipos de habitats terrestres e de água doce e cerca de 30% de todas as espécies do planeta. Mais de 30 milhões de pessoas vivem e dependem dos recursos naturais da Amazónia. Mas muitas mais na América do Norte e Europa estão sob a influência climática da região.

Segundo a organização internacional WWF, a floresta da Amazónia não apenas albergam a mais impressionante diversidade de vida na Terra mas também retém entre 90 e 140 mil milhões de toneladas de dióxido de carbono, o que a torna crucial no combate às alterações climáticas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.