Foto: Programa de Conservação Ex-situ do Lince Ibérico

Fogo obriga à evacuação de centro de reprodução do lince-ibérico em Doñana

As chamas que deflagraram no sábado no município andaluz de Moguer (Huelva) obrigaram à evacuação de emergência do centro de reprodução do lince-ibérico de El Acebuche, onde viviam cerca de 20 animais. Homer, uma fêmea, não sobreviveu.

 

Na tarde de domingo, o programa de conservação ex-situ do lince-ibérico recebeu ordens para desalojar o centro de reprodução de El Acebuche, pondo em acção o protocolo de evacuação estabelecido em caso de incêndio.

“No tempo em que foi possível trabalhar antes de abandonar definitivamente o centro de reprodução foi possível retirar nove animais adultos (cinco machos e quatro fêmeas) e cinco crias”, segundo um comunicado do centro de reprodução andaluz. Entre estes animais, o centro lamenta a morta da fêmea Homer, “provavelmente devido ao stress sofrido durante a sua captura e o transporte”. Esta fêmea tinha sido mãe de duas crias em 19 de Maio último.

Para trás ficaram 13 linces adultos, por não ter havido mais tempo. Nesta situação, o centro seguiu o protocolo e as portas dos cercados onde estavam os animais foram abertas. Assim, “no caso de o incêndio chegar às instalações, quer por fogo directo, quer pelo fumo, os animais poderão sair por si próprios”.

O centro de El Acebuche ficou para a história da conservação quando aí nasceram os primeiros linces-ibéricos em cativeiro no mundo: Brezo, Brisa e Brezina. A 28 de Março de 2005, Saliega deu à luz estas três crias e nesse momento abriu-se um novo caminho no esforço conservacionista para salvar a espécie da extinção.

Quando os técnicos puderem voltar ao centro de El Acebuche, estes irão avaliar a situação dos animais que ficaram no centro. No caso de ter havido linces que permaneceram nas instalações “poder-se-á estabelecer uma estratégia de captura” dos mesmos.

Já esta manhã, a ministra espanhola do Emprego e Segurança Social, Fátima Báñez, garantiu que os linces retirados do centro e os que lá permaneceram se encontram “em bom estado”, citou o jornal espanhol El País. Báñez acrescentou que alguns dos linces retirados do centro foram levados para Cádiz e outros ficaram na zona. Os animais “parecem estar bem, acompanhados por técnicos e investigadores”.

Esta manhã, o incêndio florestal de Huelva tem três frentes activas e continua a lavrar na área de Doñana, área protegida de grande importância para a natureza da Europa. Segundo o jornal espanhol El Mundo, as chamas avançam até aos limites do Parque Nacional de Doñana e os bombeiros tentam evitar que entre na Reserva da Biosfera. O fogo chegou também obrigar à retirada de 2.000 pessoas das localidades da região.

As chamas terão chegado aos territórios da população de linces que vivem em plena natureza em Doñana. Em 2016 foram registados 74 linces, 24 dos quais fêmeas territoriais e 16 crias, revela o mais recente censo à população de lince-ibérico.

O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo. No total da Península Ibérica existem 483 linces-ibéricos na natureza. A maioria, 397, está nas populações da Andaluzia (Doñana-Aljarafe e Serra Morena: Guadalmellato, Guarrizas e Andújar-Cardeña). Além destes 397 animais, 19 vivem em Portugal, no Vale do Guadiana; 28 em Matachel (Badajoz), 23 em Montes Toledo (Toledo) e 16 na Serra Morena Oriental.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.