Gonçalo Curveira-Santos, investigador fascinado por carnívoros

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WILDER: O que fazes?

Gonçalo Curveira-Santos: Sou biólogo da conservação, com foco em investigação em ecologia de mamíferos, carnívoros em particular. Atualmente sou estudante de doutoramento no cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. 

W: Onde e quando começaste?

Gonçalo Curveira-Santos: Fiz a licenciatura em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 2011. Depois, entre 2012 e 2014, fiz o meu mestrado em Ecologia e Conservação na Universidade de Uppsala, Suécia. Foi durante o mestrado que tive a minha primeira grande experiência de investigação, com o projecto de tese que desenvolvi sobre o impacto de opções de gestão agro-silvo-pastoral na estrutura das comunidades de carnívoros ibéricos na Companhia das Lezírias.


W: Como aprendeste a fazer o teu trabalho?

Gonçalo Curveira-Santos: Acho que o trabalho de investigação, em ecologia ou outra área, é de constante aprendizagem. No início do meu percurso académico tentei conciliar a minha formação universitária com um contacto activo com a realidade de investigação, colaborando, por exemplo, com estudantes de doutoramento, e tentando sempre aliar a componente de campo que mais me entusiasmava com a vertente analítica que sabia ser uma ferramenta essencial. Isso permitiu-me estabelecer as bases para muitas das abordagens que utilizo hoje em dia (por exemplo foto-armadilhagem, modelação hierárquica). A minha maior e continuada aposta tem sido, no entanto, a procura constante de conhecimento novo (seja por leitura de artigos ou oportunidades de formação) como base para expressar a minha curiosidade em novas perguntas e hipóteses, com as ferramentas necessárias para projetar uma investigação.

W: Quando começaste, o que pensavas que querias fazer?

Gonçalo Curveira-Santos: Desde muito novo que percebi que gostava, de alguma forma, poder contribuir para proteger a natureza e a vida selvagem; primeiro apenas por fascínio e mais tarde por uma consciencialização crescente dos riscos e ameaças. À medida que o meu interesse pela ciência foi também crescendo, percebi que a investigação e o conhecimento científico eram as ferramentas com as quais mais me identificava para esse objectivo. A minha linha de trabalho acaba por ser uma expressão natural desta minha motivação com os temas, espécies e sistemas que mais me fascinam, como os carnívoros e África. 


W: O que ainda te falta descobrir?

Gonçalo Curveira-Santos: Muita coisa. A maior parte provavelmente nem sei que ainda me falta descobrir. Mas no seguimento deste trabalho gostava de perceber melhor o que está na base das diferenças que encontramos relativamente à área formalmente protegida a longo-prazo, e isso passa por entender melhor quais os processos de recuperação destes carnívoros em reservas recentemente implementadas, e quais as consequências ecológicas dessas diferenças ao nível do ecossistema.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.