Oceanos. Foto: Mobibit/Pixabay

Greenpeace: “Os nossos oceanos estão numa espiral de morte”

A organização apela à aprovação do Tratado Mundial dos Oceanos pelas Nações Unidas, em Agosto, para acabar com a degradação marinha e para proteger 30% dos oceanos até 2030.

Segundo a Greenpeace, “as alterações climáticas, a pesca industrial, a exploração mineira submarina, as prospecções petrolíferas, a poluição e os plásticos levaram a segunda fonte de oxigénio do planeta a um estado crítico”.

Pilar Marcos, responsável dos Oceanos na Greenpeace Espanha, denuncia, em comunicado divulgado no Dia Mundial dos Oceanos, celebrado a 8 de Junho, que “os nossos oceanos estão numa espiral de morte, atingidos pelo colapso climático e pela pesca destrutiva”.

Mais de 70% dos tubarões e raias desapareceram nos últimos 50 anos e quase 60% dos pinguins-de-face-manchada (Pygoscelis antarcticus) da Antárctica desapareceu. Pelo menos 59,9% das populações de peixes avaliadas estão a ser exploradas para lá do seu rendimento máximo sustentável.

Todos os anos, mais de 500.000 toneladas de pequenos peixes são capturados ao largo da África ocidental para alimentar a indústria da aquacultura e para suplementos dietéticos, cosméticos e para produtos alimentares para animais domésticos. Mas “este pescado é essencial para manter a segurança alimentar de mais de 33 milhões de pessoas em países como a Mauritânia, o Senegal e a Gâmbia”, sublinha a Greenpeace.

As ameaças surgem em todas as frentes. A cada segundo estima-se que mais de 200 quilos de lixo vão parar aos oceanos; 80% vem de terra. Das 626 baleias-francas analisadas no Atlântico Norte, 83% tinham sinais de interação com plásticos.

Uma expedição do navio Arctic Sunriseda Greenpeace, que durou três semanas em Fevereiro deste ano, testemunhou a devastação causada pelas redes de deriva no oceano Índico. Sete navios criaram duas paredes destas redes – arte de pesca proibida na União Europeia – com mais de 33 quilómetros de comprimento; o equivalente a 2.357 autocarros, um atrás do outro. “O impacto da pesca com redes de deriva com captura acidental de cetáceos no Índico supõe um total acumulado de 4,1 milhões de golfinhos mortos em redes, entre 1950 e 2018”.

“O Dia Mundial dos Oceanos deveria ser uma celebração. Mas sinceramente, se os líderes mundiais não actuarem já para os proteger, este dia vai tornar-se numa recordação do que os oceanos já não são”, advertiu Pilar Marcos. “Desde os recifes de coral, às espécies em perigo de extinção ou às grandes áreas sem oxigénio dos nossos mares, tudo nos mostra níveis de saúde realmente preocupantes.” “O sistema marinho mostra claros sinais de esgotamento.”

Por isso, a Greenpeace pede um tratado geral para proteger a vida marinha no alto mar. “É fundamental que os Governos estabeleçam este ano um Tratado Mundial dos Oceanos nas Nações Unidas, o que poderia levar à criação de santuários oceânicos em todo o mundo, livres de actividades humanas devastadoras.”

E apesar de mais de 70 países se terem comprometido a proteger pelo menos 30% dos oceanos até 2030, estes continuam sem aprovar o Tratado.

Em Agosto, os Governos deverão reunir-se nas Nações Unidas para chegar a acordo sobre o Tratado Mundial dos Oceanos. “Pedimos-lhes que tratem esta emergência com a ambição que ela exige e que não percam esta oportunidade para dar aos nossos oceanos a protecção de que tanto precisam.”

“O oceano pode parecer remoto, mas todos dependemos dele para o oxigénio que respiramos e milhares de pessoas dependem dele para a sua alimentação e sustento. Todos precisamos do oceano e agora mesmo ele precisa de nós.”

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.