Grifo de 22 anos surpreende naturalistas do vale do rio Douro

Os conservacionistas que gerem vários campos de alimentação para aves necrófagas no Norte do país ficaram fascinados e surpreendidos ao avistar um grifo de 22 anos de idade. Esta observação foi revelada a 3 de Outubro.

 

O grifo (Gyps fulvus) foi captado duas vezes, nos dias 10 e 19 de Setembro, pelas câmaras de foto-armadilhagem colocadas pelos técnicos de monitorização de fauna selvagem da Palombar – Associação de Conservação da Natureza e do Património Rural num campo de alimentação (CAAN) no concelho de Bragança.

“O mesmo animal visitou ainda os CAAN geridos pela Palombar, nos concelhos de Mogadouro e Alfândega da Fé, em 2016, por três vezes, nos meses de Agosto, Outubro e Novembro”, refere a Palombar em comunicado enviado à Wilder.

 

 

Estes campos de alimentação são uma das medidas do projeto “LIFE Rupis – Conservação do Britango (Neophron percnopterus) e da Águia-perdigueira (Aquila fasciata) no vale do rio Douro” e são geridos pela Palombar e pelo Grupo Nordeste – Grupo para a Promoção do Desenvolvimento Sustentável.

“O avistamento de um exemplar tão velho desta espécie é surpreendente e, ao mesmo tempo, fascinante.”

O grifo tem um estatuto de conservação Quase Ameaçado em território nacional, de acordo com o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal.

A idade máxima conhecida que esta espécie já atingiu foi de 41 anos, em cativeiro. “Contudo, a sua idade máxima registada no meio natural é bastante inferior: 25 anos. O grifo tem ainda uma Generation Length (GL) ou “Duração de uma geração”, em tradução livre, de 17,8 anos.”

O seguimento deste grifo tem sido possível graças à anilhagem da ave. “Este grifo foi anilhado em 1996, quando tinha um ano de vida, em Montes de Jerez de la Frontera, em Cádis, Espanha”, explica a associação. A entidade responsável pelo anilhamento e por centralizar as informações relativas à monitorização deste animal é a Estação Biológica de Doñana, em Sevilha, Espanha.

A Palombar, no âmbito do projeto LIFE Rupis, monitoriza aves anilhadas, partilhando informação sobre estas com entidades nacionais e internacionais, e faz a anilhagem de aves para assegurar o seu seguimento e avaliação.

“A anilhagem é uma ferramenta indispensável para o estudo científico das aves e dos seus movimentos e migrações. A análise das deslocações de aves anilhadas permite definir as suas rotas migratórias e conhecer as áreas de repouso ou paragem, bem como obter informação crucial para orientar medidas de conservação efetivas e para guiar o planeamento de sistemas integrados de áreas protegidas para defesa da avifauna.”

Em Portugal nidificam algumas centenas de casais de grifos, mas a sua distribuição é fortemente assimétrica.

Segundo a Palombar, o grifo distribui-se sobretudo pelo interior do território nacional, sendo mais comum junto à fronteira com Espanha. As principais zonas de reprodução situam-se no Nordeste Transmontano, que alberga mais de metade da população portuguesa desta espécie.

O grifo está presente no nosso país ao longo de todo o ano, mas efetua movimentos amplos fora da época de reprodução, surgindo então noutras zonas do território.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

O LIFE Rupis (2015 – 2019) é um projeto de conservação transfronteiriço, cofinanciado através do programa LIFE da Comissão Europeia. É coordenado pela Sociedade Portuguesa Para o Estudo das Aves (Spea) e conta com vários parceiros nacionais e internacionais, entre os quais a Palombar.

O projeto, que decorre na Zona de Proteção Especial (ZPE) Douro Internacional e Vale do Águeda e na Zona de Especial Protección para las Aves (ZEPA) Arribes del Duero, está a implementar acções para reforçar as populações de duas espécies prioritárias da Diretiva Aves na região, o britango (Neophron percnopterus) e a águia-perdigueira (Aquila fasciata), através da redução da sua mortalidade e do aumento do seu sucesso reprodutor.

As ações do LIFE Rupis beneficiam também outras espécies com estatuto de conservação igualmente desfavorável, como é o caso da águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), do abutre-preto (Aegypius monachus) e do milhafre-real (Milvus milvus).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.