Dois dos grifos do programa de reintrodução. Foto: Rachid Elkhamlichi

Grifos voltam a nascer em Marrocos 40 anos depois

Graças a um programa de reintrodução, estes abutres voltaram a reproduzir-se em Marrocos, depois de uma ausência de 40 anos.

Os primeiros cinco grifos (Gyps fulvus) a serem reintroduzidos na natureza em Marrocos foram libertados em 2017 pelo Departamento das Águas e das Florestas do Governo de Marrocos. Desde então, e em parceria com a organização GREPOM/Birdlife Marrocos, o Departamento tem continuado os esforços para trazer de volta esta ave.

Dois dos grifos do programa de reintrodução. Foto: Rachid Elkhamlichi

“É um verdadeiro prazer ver os grifos a acasalar e a reproduzir-se pela primeira vez em Jbel Moussa”, disse, em comunicado, Khadija Bourass, director executivo da GREPOM/Birdlife Marrocos. “Os grifos reproduziram-se em Marrocos até aos anos 80 do século passado e pouco depois a espécie desapareceu do país.” As causas terão sido a falta de alimento, a caça ilegal, o envenenamento e a falta de habitat.

O projecto de conservação assenta no Centro de Reabilitação de Abutres na costa Sul do Estreito de Gibraltar, no cimo da majestosa montanha Jbel Moussa, um sítio de importância biológica. Este Centro – co-gerido pela GREPOM/Birdlife Marrocos e pelo Departamento – abriu em Maio de 2020 e um mês depois passou a ser a casa do programa de reintrodução do grifo.

No âmbito deste programa, os abutres em dificuldades que são resgatados durante as migrações anuais são colocados em instalações especializadas onde lhes são prestados os cuidados necessários para a sua recuperação.

Em Janeiro deste ano, durante a época de reprodução, foram reintroduzidos na natureza oito grifos, na esperança de encorajar abutres selvagens na região a retomar o seu comportamento.

E deu resultado. A equipa continuou a monitorizar as aves libertadas e registou provas da reprodução na natureza no final de Janeiro.

“O nosso próximo desafio é avaliar a taxa de integração destes abutres na natureza, a reprodução com sucesso e a capacidade de sobrevivência e para procurar alimento fora da área de reintrodução”, explicou Rachid El Khamlichi, responsável pelo Centro de Reabilitação de Abutres.

A equipa prevê diversificar os locais onde tem instalados campos de alimentação para encorajar os abutres libertados a usarem novas áreas.

“Mesmo que hoje estejamos a celebrar o sucesso que conseguimos até agora, o nosso objectivo é garantir a sustentabilidade e sobrevivência da colónia a médio e a longo prazo”, acrescentou El Khamlichi.

Das cinco espécies de abutres que já se reproduziram em Marrocos apenas restam duas: o quebra-ossos (Gypaetus barbatus) e o abutre-do-Egipto (Neophron percnopterus).

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.