Grifo de pé numa rocha, de asas abertas
Grifo (Gyps fulvus). Foto: Emiliya Toncheva/Wiki Commons

Grifos voltam a reproduzir-se em Marrocos 40 anos depois

O grifo (Gyps fulvus) está a reproduzir-se em Marrocos, depois de uma ausência de 40 anos, como consequência de um programa de reintrodução da espécie, foi hoje revelado. 

Em Junho de 2020 foi lançado o programa de reintrodução desta ave no Norte de Marrocos, mais precisamente em Jbel Moussa, por duas entidades: Département des Eaux et Forêts – Maroc (DEF) e GREPOM/Birdlife Morocco.

Este programa reabilita abutres resgatados em mau estado durante as migrações e coloca-os em centros especializados até à sua recuperação total.

Pela primeira vez em Junho de 2020, a equipa do programa transferiu 10 abutres adultos do Dream Village Park em Mohammadia para o Centro de Reabilitação de Abutres Jbel Moussa. A ideia era aclimatar estas aves ao ambiente, antes de serem libertadas na natureza.

grifos num rochedo
Grifos. Foto: Dave Massie/Wiki Commons

Seis meses depois, em Janeiro deste ano, a equipa libertou oito dos 10 grifos na natureza. Os animais foram libertados durante o seu período reprodutivo para os encorajar a reproduzirem-se em liberdade, explica, em comunicado, a Fundação de Conservação dos Abutres (Vulture Conservation Foundation, VCF). 

E os esforços deram frutos. A equipa continuou a monitorizar os abutres na natureza e observou sinais de reprodução no final de Janeiro, com a formação de casais e rituais de acasalamento.

Marrocos já teve cinco espécies reprodutoras de abutres. Mas hoje apenas o quebra-ossos (Gypaetus barbatus) e o abutre-do-Egipto (Neophron percnopterus) continuam a reproduzir-se nas montanhas do Alto Atlas.

Nos últimos anos, um número cada vez maior de grifos tem vindo a visitar Marrocos, graças aos esforços de recuperação da espécie na Europa, em especial em Espanha, onde existem hoje mais de 30.000 casais reprodutores. Mas o grifo deixou de se reproduzir em Marrocos na segunda metade do século XX.

As principais razões da extinção da espécie como reprodutora incluem falta de alimento de qualidade, caça ilegal, envenenamento e perda de habitat. 


Já que está aqui…

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Marco Nunes Correia é ilustrador científico, especializado no desenho de aves. Tem em mãos dois guias de aves selvagens e é professor de desenho e ilustração.

O calendário pode ser encomendado aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.