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Guilherme e Anatoli procuram esquilos em Castelo Branco

Dois alunos do 12º ano de Biologia na Escola Secundária Amato Lusitano, em Castelo Branco, avançaram com um projecto para registar a presença do esquilo-vermelho num pinhal da região. Contamos como foi.

Guilherme Pereira e Anatoli Studoniyy decidiram estudar os hábitos de vida do esquilo-vermelho (Sciurus vulgaris) e registar através de imagens as suas observações num pinhal próximo da aldeia onde Guilherme mora, em Maxiais, perto de Castelo Branco.

O projecto dos dois alunos do 12º ano da Escola Secundária Amato Lusitano teve um início de muitas dúvidas e perguntas por responder, mas não é isso que acontece a todos os (aspirantes a) cientistas?

Tudo começou com uma sugestão do professor de biologia, no âmbito do concurso nacional de jovens cientistas e investigadores, para o qual cada grupo de alunos desenvolve um trabalho que poderá ser escolhido para entrar na competição. “Essa ideia [do esquilo] acabou por ser a que escolhemos, por eu já ter tido oportunidade de observar directamente um esquilo-vermelho na zona de estudo, há alguns anos”, explicou Guilherme à Wilder.

Foi em Outubro passado que deram os primeiros passos. Guilherme e Anatoli pesquisaram e estudaram vários trabalhos sobre a espécie, para a parte teórica do projecto, e procuraram entender os comportamentos típicos do esquilo-vermelho – uma ajuda importante para o trabalho de campo, para poderem “ler” melhor os vestígios que foram encontrando.

Fundamental neste trabalho foi um dispositivo que os dois alunos construíram para detectar a presença de esquilos e que colocaram no pinhal em Maxiais.

dispositivo esquilo
Este foi o dispositivo montado pelos dois alunos para detectarem a presença de esquilos

 

Segundo explica Guilherme, “o dispositivo serve para verificar se é um roedor pequeno, como o esquilo-vermelho, que come as bolotas que ficam lá dentro. Para isso, o dispositivo tem quatro ramos pequenos e não muito pesados, apoiados num tronco de pinheiro e presos com pedras, também não demasiado grandes.”

Mas como funciona? Se fosse um javali a comer as bolotas, o animal “retiraria as pedras e os ramos para alcançar o alimento”. Mas não no caso de um esquilo, “visto que passaria facilmente pelos espaços entre os ramos e comeria as bolotas sem mexer no dispositivo”.

Mas foram as pinhas roídas encontradas no pinhal, ao longo dos últimos meses, e mais agora na Primavera, que convenceram os dois alunos da presença de um ou mais esquilos que até agora não se deixaram ver – animais tímidos, mas bem activos.

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Aqui uma pinha roída que o Guilherme e o Anatoli encontraram

 

“Temos muitas evidências, como as pinhas roídas, que são o indicador perfeito da sua existência, pois pelo que sabemos, não existe nesta zona qualquer outro animal que possa roer pinhas sem ser o esquilo-vermelho”, afirma Guilherme.

Por enquanto, os dois alunos aguardam a avaliação do trabalho. Mesmo que o projecto não seja seleccionado para ir a concurso, Guilherme pretende continuar à procura, para ter mesmo a certeza sobre o roedor daquelas pinhas.

E entretanto, está certo de que não foi tempo perdido. Aprendeu muitas coisas novas, como por exemplo que os esquilos-vermelhos são “seres muito complexos e que apresentam características muito difíceis de encontrar no mundo animal, como a adopção de crias abandonadas”.

Melhor ainda, este projecto reforçou ainda mais o caminho que Guilherme já traçou para o futuro: quer seguir a carreira de biólogo.

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Já viu algum esquilo-vermelho em Portugal? Se costuma vê-los, participe no projecto de inventariação da espécie no nosso país, através da página de Facebook O Esquilo Vermelho em Portugal. E se quiser também pode participar no concurso de fotografia que esse projecto está a organizar até Julho. A foto principal deste artigo foi-nos gentilmente cedida por Paulo Loureiro, um dos concorrentes nesse concurso.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.