Abelha. Foto: Suzanne D. Williams/Pixabay

Há cada vez menos flores silvestres para alimentar as abelhas do Reino Unido

Um projecto de descodificação do ADN escondido no mel das abelhas permitiu aos cientistas perceberem em que plantas estes insectos recolhem actualmente mais pólen.

Investigadores conseguiram comparar que plantas predominavam nos campos ingleses, na década de 1950, com o que acontece agora.

Para isso, analisaram o ADN contido em minúsculos grãos de pólen escondidos dentro de centenas de amostras de mel que receberam de apicultores por todo o Reino Unido, depois do apelo lançado durante um programa televisivo. Compararam então os resultados com informação recolhida em 1952, na altura através da análise ao microscópio de mel também enviado de todo o país.

As conclusões são preocupantes. “Encontrámos grandes mudanças na paisagem do Reino Unido e as abelhas mostraram-nos isso a partir das amostras do mel”, disse à BBC a directora de conservação e pesquisa do Jardim Botânico Nacional do País de Gales, Natasha de Vere.

O problema é que os sistemas agrícolas actuais não têm néctar suficiente para os polinizadores, avisou, uma vez que grande parte dos habitats disponíveis são pastagens, “uma espécie de deserto verde”.

“Já não há nada que realmente floresça nestas pastagens, enquanto que nos anos 50 essas pastagens estariam cheias de trevos brancos e de outras flores silvestres”, notou também Natasha de Vere, citada pela BBC.

Trevo-branco. Foto: Helena Geraldes

O trevo branco, uma planta que antes era muito usada nos sistemas de rotação agrícola, era a mais procurada pelas abelhas-do-mel em 1952. Agora continua a ser importante – está em segundo lugar nas preferências – mas muito distante do que já foi. Isto porque a espécie tornou-se rara “devido à diminuição das pastagens e ao uso crescente de herbicidas e de fertilizantes inorgânicos na agricultura”, acrescenta um comunicado do Jardim Botânico Nacional do País de Gales.

Que plantas são favoritas?

Com base nos dados recolhidos, os cientistas perceberam que as abelhas visitam agora com mais frequência os arbustos de amoras silvestres, espécie favorita actual destes insectos, que floresce em períodos semelhantes aos do trevo-branco.

Arbusto de amoras em flor. Foto: Tauno Erik/Wiki Commons

Preferidas são também a colza, uma planta da qual se extrai o óleo de colza, muito cultivada no país, e uma espécie altamente invasora conhecida por bálsamo-dos-Himalaias. Plantar esta última é hoje proibido no país, uma vez que compete agressivamente com espécies de plantas nativas.

Igualmente importantes são arbustos e árvores que florescem na Primavera, como o pilriteiro, as macieiras, cerejeiras e ameixoeiras, espécies do género Acer, como os bordos, e ainda a urze.

“Se entendermos que plantas são as fontes mais importantes de alimento podemos fazer recomendações para que se saiba que plantas devem ser cultivadas para que as abelhas e os polinizadores selvagens possam prosperar”, sublinhou Natasha de Vere.

Planta da urze em flor. Foto: C. Löser/Wiki Media

O Reino Unido precisa de “mais sebes nos campos agrícolas preenchidas com flores silvestres, com margens de amoras silvestres, e pastagens ricas em flores”, avisam também estes cientistas, para quem a prioridade é “melhorar as pastagens”.

“As flores silvestres são espremidas para se criarem pastagens demandas por um número diminuto de espécies de herbáceas, onde há muito poucas flores para sustentar os polinizadores. Mas devido à escala deste habitat, pequenas mudanças poderiam aumentar enormemente os recursos para o néctar.”


Saiba mais.

Albano Soares já identificou mais de 100 espécies de abelhas na Mata de Alvalade. Conheça aqui o projecto deste entomólgo português.


Já que está aqui…

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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.