Há mais duas crias de lince-ibérico no Vale do Guadiana

Duas crias de lince-ibérico com cerca de dois meses de idade foram confirmadas hoje no Vale do Guadiana, uma semana depois do anúncio da primeira cria em liberdade. Esta é a ninhada de Lagunilla.

 

“O parto terá ocorrido entre 2 e 8 de Março deste ano”, segundo um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) enviado esta tarde à Wilder. Hoje, 12 de Maio, “os técnicos do ICNF conseguiram observar e fotografar duas crias que terão cerca de dois meses” de idade.

 

 

Os técnicos no terreno admitem a existência de uma terceira cria mas esta ainda não foi confirmada.

 

Lagunilla com um coelho-bravo. Foto: ICNF
Lagunilla com um coelho-bravo. Foto: ICNF

 

As equipas de seguimento já desconfiavam da gravidez de Lagunilla. “A monitorização contínua dos animais por foto-armadilhagem indicou que esta fêmea tinha entrado em cio, sendo frequentemente detetada com o macho Luso“, segundo o ICNF. “A gestação acabou por ser confirmada, através de vários vídeos, onde era notório o aumento da dimensão do seu abdómen.”

Lagunilla é uma fêmea de lince-ibérico com 2 anos de idade. Nasceu no Centro de Reprodução de Zarza da Granadilla em Espanha e foi libertada há cerca de um ano, a 11 de Maio de 2015, na Herdade das Romeiras no âmbito do Projeto “Recuperação da Distribuição Histórica do Lince Ibérico (Lynx pardinus) em Espanha e Portugal (Iberlince), a decorrer até 2017.

Segundo o ICNF, os primeiros movimentos desta fêmea foram para Oeste poucos dias depois da sua libertação. Percorreu 15 quilómetros em campo aberto e fixou-se a poucos metros da estrada nacional (N123) Castro Verde-Mértola. “Como esta situação constituía um grande risco de atropelamento, os técnicos do ICNF intervieram para retirar o lince do local conseguindo que a fêmea tenha voltado para a zona do núcleo original e acabado por estabelecer o seu território junto aos restantes linces”.

O território de Lagunilla “tem uma densidade de coelho-bravo muito alta, condição importante para a estabilização das fêmeas de lince. Neste caso existem também inúmeras oliveiras centenárias que podem ser usadas como tocas e onde as crias permanecem durante o período de amamentação.”

A primeira cria em liberdade em Portugal, em mais de 40 anos, foi anunciada a 5 de Maio. Era a ninhada de Jacarandá, fêmea de lince nascida no Centro Nacional de Reprodução de Lince-Ibérico, em Silves.

Entretanto, o ICNF divulgou hoje duas fotografias da cria de Jacarandá, “momentos antes de arrancar a câmara de armadilhagem fotográfica da árvore”.

 

 

 

Para o ICNF, estas duas novas ocorrências “constituem um dos mais relevantes marcos na já longa história da conservação do lince ibérico em Portugal, iniciada há mais 30 anos com a campanha da LPN “Salvemos o lince e a Serra da Malcata”. A existência de fêmeas reprodutoras é o mais significativo indicador da saúde de uma população e um facto que sustenta o potencial sucesso do processo de reintrodução iniciado.”

Hoje viverão no Parque Natural do Vale do Guadiana 15 linces-ibéricos adultos. Nove deles foram reintroduzidos em 2015 e seis já este ano. Outras duas linces acabaram por morrer, Kayakweru e a Myrtilis. Estes 15 linces vivem preferencialmente numa zona que tem entre 15.000 e 20.000 hectares, dentro dos 70.000 da área do Parque Natural do Vale do Guadiana. “É essa a área de maior qualidade para o lince. Há boas densidades de coelho-bravo, há bastante vegetação arbustiva que proporciona abrigos, como estevas, zambujeiros, aroeiras e algumas azinheiras”, descreveu Pedro Rocha, director da área protegida, à Wilder na semana passada.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Saiba como é cuidar dos linces no Vale do Guadiana e quantos linces nascidos em Silves já foram pais na natureza.

Siga a nossa série “Como nasce um lince-ibérico” e conheça os veterinários, video-vigilantes, tratadores e restante equipa do Centro Nacional de Reprodução (CNRLI) em Silves.

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez. Saiba o que fazer quando vir um lince.

Ver linces-ibéricos em Portugal já não é assim tão impossível. É preciso estar preparado. Pedro Rocha deixa algumas sugestões que podem ajudar à conservação da espécie.

Se vir um lince deve ter atenção à cor da coleira, já que cada animal reintroduzido traz uma coleira emissora de cor diferente. Por exemplo, a Jacarandá tem uma coleira vermelha. Depois, o Parque Natural do Vale do Guadiana agradece o seu contacto para:

Telefone: 286.612.016

Email: [email protected]

E há que ter muita atenção aos sinais da estrada entre Mértola e Beja. “Os linces estão nessa zona. A sério. Aqueles sinais não são só folclore. Há linces a passar”, salienta Pedro Rocha. Existem mais hipóteses de os encontrar durante os períodos crepusculares (ao amanhecer e ao anoitecer), já que é quando os animais estão mais activos.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.