Fêmea e crias no CNRLI. Foto: Joana Bourgard/Wilder (arquivo)

Há mais uma cria no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico

Subiu para 12 o número de crias de lince-ibérico, espécie Em Perigo de extinção, no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI). A cria é de Era, uma das fêmeas fundadoras deste centro.

 

Esta cria nasceu a 20 de Abril, dias depois das crias de Jabaluna (que nasceram a 6 de Abril), Fresa (9 de Abril), Juncia (10 de Abril) e de Juromenha (11 de Abril).

Era pariu no dia 20 de Abril duas crias após um trabalho de parto muito difícil”, segundo um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Uma delas acabou por não sobreviver.

Mas hoje, “mãe e cria sobrevivente estão bem”, à semelhança do que acontece com as restantes 11 crias de Jabaluna, Fresa, Juncia e Juromenha.

“Às 00h23, e após 2 horas e 20 minutos de trabalho de parto, conseguiu parir com dificuldade a primeira cria no exterior da sua instalação, após entradas e saídas na caixa-ninho com contrações fortes. Após o parto no exterior transportou imediatamente a cria recém-nascida para o interior da caixa, tendo cuidado adequadamente da cria viva e com bons instintos.”

Vinte minutos mais tarde, recomeçaram as contrações. A segunda cria nasceu uma hora depois, “outra vez com grandes dificuldades, agravadas pela posição da cria no canal de parto – apresentou-se de cauda -, dificultando muito o parto da Era”.

“A segunda cria foi finalmente expulsa no exterior da instalação às 01h:58, depois de várias entradas e saídas desta na caixa ninho, tendo deixado a primeira cria desatendida durante uma hora aproximadamente. Mal conseguiu expulsar a segunda cria do canal de parto, e depois de verificar que a sua segunda cria estava morta, voltou de imediato à caixa-ninho e assumiu os cuidados maternais à sua cria sobrevivente.”

Era é uma fêmea de 12 anos e fundadora do CNRLI. Nasceu na natureza, na Serra de Andújar, em Espanha.

Foi capturada em Outubro de 2008 e integrada no Programa de Conservação Ex-Situ do Lince Ibérico.

Depois de passar pelos centros de cria de El Acebuche e de La Olivilla, chegou ao CNRLI no ano da sua abertura, em Novembro de 2009.

“Desde sempre uma fêmea com problemas comportamentais de adaptação ao cativeiro, só à sua sexta temporada de reprodução conseguiu ficar gestante, tendo também tido enormes dificuldades em parir duas crias, ambas mortas. Só na sua sétima tentativa e após terapia clínica com um modulador de ansiedade, produziu as suas primeiras crias vivas, no ano de 2016.”

Era já pariu 10 crias, sendo que apenas três delas sobreviveram e foram reintroduzidas na natureza. Uma delas é a fêmea Odelouca, reintroduzida no Vale do Guadiana em 2019.

Esta é a segunda ninhada neste ano tendo como progenitor o macho Madagáscar.

O Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Vale Fuzeiros, São Bartolomeu de Messines, Silves, está no centro de um dos maiores esforços de conservação da Europa.

A época dos nascimentos é o culminar de um ano de trabalho para a equipa que garante o funcionamento do centro e para os voluntários. O grande objectivo é conseguir crias saudáveis, treiná-las para a liberdade e, meses depois, soltá-las na natureza, para que novas populações de linces voltem aos territórios de onde se extinguiram há décadas.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais

Série “Como nasce um lince-ibérico”

Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março de 2015 e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Saiba como é o trabalho naquele centro e quem são as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.