Lince-ibérico, cria. Foto: Programa Ex-situ (arquivo)

Há oito novas crias no centro de reprodução do lince-ibérico em Silves

Das 14 crias que foram geradas este ano no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, em Silves, pouco mais de metade sobreviveu, indicou à Wilder o director desta unidade, Rodrigo Serra.

Foi em Março que nasceram as crias de lince-ibérico (Lynx pardinus) no único centro português de reprodução desta espécie Em Perigo de extinção, depois de gestações que duram em média cerca de dois meses, 64 dias. Em causa está o Programa de Reprodução Ex-situ do Lince-Ibérico, que envolve o Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), em Silves, e outras cinco unidades em Espanha.

Biznaga, uma fêmea actualmente com 14 anos de idade, revelou-se “uma super-mãe”, sublinhou o director do CNRLI. Além das duas crias que tinha dado à luz, adoptou outro pequeno lince que teve de ser retirado à mãe, Jabaluna, que apresentava “problemas comportamentais”.

Foi Jabaluna, aliás, que mais crias perdeu este ano: três das quatro que teve, uma devido a uma hérnia umbilical e as outras não se sabe bem qual a razão. “Acreditamos que esta fêmea terá sido a que ficou mais afectada pela retirada de todos os linces do centro”, devido ao fogo ocorrido em Agosto passado, admitiu Rodrigo Serra.

Em Agosto de 2018, foram transferidos 29 linces que estavam em Silves para outros quatro centros em Espanha, de onde só regressaram em Dezembro.

“Um reprodutor muito valioso”

Outra cria adoptada, mas desta vez por humanos – por falta de fêmeas adoptivas disponíveis nos centros de reprodução – foi um macho filho de Artemisa e Madagascar. “Artemisa já tem 15 anos e pariu uma cria viva e uma cria morta. Mas percebemos que não estava a cuidar da cria sobrevivente e por isso tivemos de a retirar e criar à mão”.

Este pequeno lince está agora junto com o pai e irá permanecer em cativeiro, não só por ter tido contacto com humanos, mas também porque “será um reprodutor muito valioso” dentro do programa de reprodução de linces-ibéricos em cativeiro. “É filho de dois fundadores, ou seja, dois linces que nasceram na natureza e que são extremamente valiosos, pois representam a genética original”, sublinhou Rodrigo Serra.

Lutas entre irmãos

Por outro lado, uma das sete crias que morreram este ano – filha da fêmea Era – faleceu num ataque entre irmãos, durante o chamado período agonístico. Esta situação é também conhecida por cainismo (palavra com origem na história bíblica em que Caim assassinou o irmão Abel).

“As lutas entre irmãos são uma característica biológica comum a outros grupos de animais, desde as aves de rapina até às hienas”, explicou Rodrigo Serra. “Também acontecem no lince euro-asiático, mas em cerca de metade das ninhadas, enquanto no lince-ibérico isso sucede com a quase totalidade, em que normalmente todas as crias da ninhada lutam entre si, entre a 7ª e a 12ª semanas de vida.” O que tem acontecido até hoje é que normalmente as mães linces conseguem separar os filhos com sucesso.

Ocorreram aliás outros três casos semelhantes nos outros centros de reprodução em Espanha, este ano.

Cria de lince-ibérico. Foto: Programa ibérico de Conservação Ex-Situ

No total, das 50 crias de lince-ibérico geradas este ano no âmbito da reprodução em cativeiro, sobreviveram 35 pequenos linces, adianta um comunicado do Programa de Conservação Ex-situ do Lince Ibérico.

“Embora as percentagens de fêmeas emparelhadas que copularam e de fêmeas que ficaram gestantes sejam iguais ou superiores às de anos anteriores, a percentagem de sobrevivência das crias foi inferior aos dados registados em épocas passadas”, informa.

Em Silves, houve ainda uma nova tentativa de inseminação artificial de duas fêmeas, mas que à semelhança dos dois anos anteriores não teve sucesso.

Taxa de sobrevivência foi menor em Silves

“Este ano tivemos uma taxa de mortalidade que não é normal em Silves”, indicou por sua vez Rodrigo Serra, notando que “é muito difícil perceber quais poderão ter sido os factores”.

“Terá com certeza alguma relação com as evacuações que foram feitas [devido ao incêndio de Agosto], mas esperávamos até que o impacto fosse maior. Das seis crias que emparelhámos, cinco não só ficaram gestantes como tiveram crias”, indicou.

Juromenha foi a única lince emparelhada em Silves que não ficou prenha. Das outras cinco, Kaida deu à luz uma ninhada de três, todos com sucesso.

Contas feitas, “fomos o segundo centro com mais linces vivos e ficámos ex aequo com os linces nascidos no centro de Granadilla”, resumiu o director do CNRLI. “O resultado líquido são sete animais para o campo e um reprodutor.”

Por agora, estes oito linces estão em fase de aprendizagem juntamente com as mães – ou com o pai, no caso de uma das crias. “Estão a desenvolver técnicas de caça, em interacção social com as mães e os irmãos e a ganhar peso e força. Entre Outubro, Novembro e Dezembro terão de estar totalmente independentes.”

Será no começo de 2020, entre Janeiro e Fevereiro, que sete das oito crias nascidas este ano serão libertadas em zonas especiais, para poderem dispersar e contribuir para a reprodução da espécie na natureza.


Saiba mais.

Recorde como foram as anteriores épocas de reprodução em Silves, onde até Março de 2018 nasceram mais de 100 linces-ibéricos.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.