Ensaião da espécie Aeonium glandulosum. Foto: Paulo Ventura Araújo

Há um novo portal para conhecermos todas as plantas fantásticas da Madeira

O Flora-On Madeira inclui mais de 1000 espécies nativas do arquipélago, incluindo 172 que são exclusivas da região. A Wilder falou com João Farminhão, da Sociedade Portuguesa de Botânica, e conta-lhe tudo.

Uma cenoura gigante que chega aos quatro metros de altura, uma orquídea branca rara cujo parente mais próximo está na América do Norte, ou uma erva que ganhou porte de árvore e que atinge dois metros de altura. Estas são três das espécies botânicas endémicas da Madeira, ou seja, que existem naturalmente apenas no arquipélago, e que fazem arregalar os olhos aos apaixonados pelo mundo botânico.

Lançado este sábado, 17 de Dezembro, o novo Flora-On Madeira – irmão mais novo do Flora-On Portugal Continental e do Flora-On Açores – tem informação disponível sobre todas as 172 plantas endémicas madeirenses, incluindo várias que neste arquipélago tiveram espaço para ganhar características muito diferentes das parentes mais próximas – como crescer até grandes alturas ou mesmo ganhar um porte arbóreo.

Maçaroco-do-porto-santo. Fotos: Paulo Ventura Araújo

Das espécies endémicas madeirenses, 138 – ou seja, cerca de 80% – já têm imagens associadas dentro do portal. E o objetivo é continuar a aumentar a informação disponível e o número de plantas ilustradas, explicou à Wilder João Farminhão, da Sociedade Portuguesa de Botânica, entidade que coordena o projecto. Para além destas espécies endémicas, o novo Flora-On Madeira inclui também todas as outras plantas nativas do arquipélago.

Além de vários fenómenos de gigantismo e lenhosidade insular, “o que é excepcional na Madeira é o cruzamento de plantas com proveniências geográficas bastante diferentes”, salientou o investigador, que está ligado ao Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Tal como na restante Macaronésia, região biogeográfica que além da Madeira inclui os Açores, as Canárias e Cabo Verde, neste arquipélago atlântico habitam diversas árvores da antiga floresta laurissilva – relíquias das florestas que cobriam a Europa há milhões de anos. Aqui também se encontram diversas plantas com origem na África Oriental, na América e na Europa temperada. Nalguns destes casos, os investigadores não têm certezas sobre como terão ali chegado.

Ensaião da espécie Aeonium glandulosum. Foto: Paulo Ventura Araújo

Outra novidade do novo portal: quase todas as espécies endémicas estão acompanhadas por textos pormenorizados – “verbetes enciclopédicos” – com dados sobre a evolução, a ecologia e o parentesco entre essas e outras plantas, e ainda links para mais bibliografia sobre as mesmas, indicou também João Farminhão. A ideia é mais tarde estender essa informação a mais espécies em todo o Flora-On.

No total, a produção deste novo projecto demorou cerca de um ano, a começar pela escolha de fotografias locais já tiradas por alguns membros da SPBotânica, em especial Paulo Ventura Araújo. Seguiu-se depois a compilação de referências bibliográficas, que começou há cerca de dois meses. A ideia agora é receber colaborações dos residentes no arquipélago, em especial aqueles que estão ligados ao mundo botânico – seja em novos registos de espécies, fotografias, revisão de textos ou mais informação.

O lançamento do novo Flora-On Madeira – o portal já existia mas continha apenas espécies nativas também do continente – acontece no mesmo ano em que o Flora-On completa 10 anos de existência, segundo um comunicado da SPBotânica. “Desde a sua criação, foi possível sistematizar informação fotográfica, geográfica, morfológica e ecológica para um número sempre crescente de espécies de plantas autóctones ou naturalizadas de Portugal continental e, desde 2015, também dos Açores”, afirma a equipa.

Além do novo portal, há mais uma novidade. Também com início neste sábado, “o portal dedicado aos Açores ganhará um aspeto renovado, com a inclusão de fotos ilustrando habitats importantes de todas as ilhas do arquipélago”.


Saiba mais.

Descubra porque estas nove plantas madeirenses são consideradas incríveis.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.