Foto: Virvoreanu Laurentius/Pixabay

Hoje esgotámos os recursos naturais da Terra para 2017

Os recursos naturais do planeta Terra não chegam para sustentar a Humanidade durante todo o ano. Na verdade, esgotaram-se hoje, dia 2 de Agosto, chamado Earth Overshoot Day. No ano passado tivemos recursos para mais uma semana. A associação ZERO sugere o que podemos fazer para reduzir este défice ambiental.

 

Todos os anos, a Global Footprint Network (GFN), organização internacional sem fins lucrativos criada em 2003, faz um estudo sobre o consumo mundial de recursos naturais e a capacidade do planeta em renová-los. No ano passado esgotámos os recursos naturais do planeta disponíveis para 2016 a 8 de Agosto. Este ano, o Overshoot Day chegou uma semana mais cedo, a 2 de Agosto.

“Usamos mais recursos e serviços naturais do que aqueles que a natureza consegue repor quando sobre-exploramos os recursos marinhos e as florestas e quando emitimos mais dióxido de carbono para a atmosfera do que aquele que as florestas conseguem sequestrar”, escrevem os organizadores desta iniciativa.

O último ano em que respeitámos o nosso orçamento natural anual foi em 1970, lembra a ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, em comunicado divulgado ontem. “O planeta é a fonte de tudo o que necessitamos para viver enquanto espécie. O Overshoot Day indica-nos que estamos a forçar os limites do planeta cada vez com maior intensidade.”

Portugal faz parte dos países que gastam demais, especialmente nas áreas do consumo de alimentos (32% da pegada global do país) e da mobilidade (18%). Segundo a ZERO, “se todos os países tivessem a mesma pegada ecológica que nós, seriam necessários 2,3 planetas” em vez de um.

Na base destas contas está a totalidade de recursos que o planeta é capaz de regenerar num ano e a pegada ecológica global, ou seja, os recursos que o ser humano consome num ano. Dividindo-se a primeira pela segunda e multiplicando-se o valor obtido pelo número de dias do ano, a GFN estima o Earth Overshoot Day.

Mas, segundo os organizadores desta iniciativa internacional, ainda é possível agir. “Se conseguirmos atrasar o Overshoot Day 4,5 dias todos os anos, é possível retornar ao nível em que utilizamos os recursos de um só planeta até 2050.”

A ZERO ajuda com algumas sugestões dirigidas a cidadãos, Estado e empresas. Como a redução e reutilização dos recursos, que deve ser uma prioridade para todas as políticas públicas. “Temos de mudar o paradigma de ‘usar e deitar fora’, muito assente na reciclagem, incineração e deposição em aterro, para um paradigma de ‘ter menos, mas de melhor qualidade'”, sugere.

Para resolver esta questão, a organização internacional Greenpeace lançou agora a campanha “Wash your spoon“. Esta desafia os cidadãos a usar a colher de plástico, a lavá-la e reutilizá-la quando necessário. “Pense na vida de uma colher de plástico. No tempo que leva a viajar pelo planeta, nos recursos e na energia gastos em cada etapa… apenas para ser usada uma vez e ser deitada fora?”, desafia a Greenpeace. A colher de plástico representa “a forma como nos relacionamos com as coisas que consumimos e as escolhas que podemos fazer para influenciar o consumo na nossa economia”.

Outras soluções passam pela melhoria dos transportes públicos, pela promoção do andar a pé e da bicicleta, bem como da partilha do transporte (car-sharing) ou mesmo a transição para a mobilidade elétrica, acrescenta a ZERO.

A dieta alimentar deve dar mais importância ao consumo de hortícolas, frutas e leguminosas secas – tentando comprar produtos locais ou, pelo menos, nacionais – e reduzir o consumo de proteína de origem animal. “Alterar a dieta alimentar, respeitando a Roda dos Alimentos, é um dos maiores contributos que cada um de nós pode dar em termos de sustentabilidade”, diz a associação.

A ZERO defende ainda que quem quer ser sustentável não deve ser penalizado “em termos de preço ou de dificuldade no acesso aos bens necessários”. E que as soluções menos sustentáveis devem ser penalizadas ao mesmo tempo que as opções sustentáveis são incentivadas.

Para começar, a associação sugere “dar um passo de cada vez”. Por que não, propôr-se “fazer uma mudança por mês para tornar o seu quotidiano mais sustentável e partilhá-lo com os seus amigos e colegas? Não só poderá sensibilizá-los, como poderá aumentar o seu “incentivo” para manter o seu interesse.”

“O nosso planeta é finito, mas as possibilidades do ser humano não são”, lembra, em comunicado, Mathis Wackernagel, CEO da Global Footprint Network e co-criador da Pegada Ecológica. “Viver dentro do orçamento de um planeta é tecnicamente possível, financeiramente benéfico e a nossa única hipótese de um futuro próspero.”

“Em última análise, retroceder o Earth Overshoot Day todo ano é o objetivo a alcançar.”

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Calcule aqui a sua pegada ecológica, ou seja, o seu próprio Overshoot Day.

Faça parte do desafio internacional para adiar o Overshoot Day – usando a hashtag #movethedate – e faça algumas (ou todas) das sete propostas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.