Incêndio destrói Museu Nacional do Brasil

Um incêndio que deflagrou no domingo às 19h30 (23h30 em Lisboa), destruiu o Museu Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro, que albergava cerca de 20 milhões de espécimes e peças.

 

O incêndio, cujas causas ainda não são conhecidas, começou quando o museu já estava encerrado e não tinha visitantes, não havendo feridos a registar. Segundo o jornal brasileiro Folha de São Paulo, o fogo entrou em fase de rescaldo hoje de madrugada, cerca das 02h00 (06h00 em Lisboa).

Era o museu mais antigo do país, instalado num palacete imperial na Quinta da Boa Vista, na zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. Fez 200 anos em Junho e foi fundado por D. João VI em 1818 para promover o conhecimento e o estudo das ciências naturais no Brasil. Actualmente está ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Ainda não foi possível fazer um levantamento dos danos mas a vice-directora do Museu Nacional, Cristiana Serejo, receia que praticamente todo o acervo tenha sido destruído, noticiou a Folha de São Paulo. Serejo ainda conseguiu salvar alguns equipamentos e espécimes. “Arrombámos uma porta e conseguimos tirar algumas coisas”, nomeadamente a colecção de malacologia.

O fogo pode ter destruído toda a colecção do edifício principal – incluindo fósseis, a colecção de invertebrados e exemplares de múmias. O museu guardava boa parte de espécies descritas por cientistas brasileiros e as suas colecções eram visitadas por investigadores estrangeiros. Ainda assim, há colecções que estavam num anexo e que terão sido preservadas.

“Esta perda é inestimável, é irreparável, nunca mais vamos conseguir isto de volta”, comentou a bióloga Claudia Russo, da UFRJ, que trabalha com invertebrados no museu, segundo aquele jornal.

“É um prejuízo incalculável”, disse João Wagner Alencar Castro, professor de geologia e funcionário da UFRJ e que acompanha os trabalhos de contenção dos danos, citado pelo jornal. “Estamos muito emocionados. É como se tivesse morrido alguém muito próximo.”

Segundo o jornal Folha de São Paulo, o museu mais antigo do país passava por dificuldades financeiras geradas pelo corte no seu orçamento. Uma situação sublinhada hoje, em comunicado, pela reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

“Há décadas que as universidades federais do país vêm denunciando o tratamento conferido ao património das instituições universitárias brasileiras e a falta de financiamento adequado, em especial nos últimos quatro anos, quando as universidades federais sofreram uma drástica redução orçamental”.

Depois deste incêndio, “a cultura e o património científico do Brasil e do mundo sofreram uma perda inestimável”, salientou a reitoria que já pediu à Polícia Federal e a especialistas um “processo rigoroso de apuramento das causas” do sucedido.

“O inadmissível acontecimento que afecta o Museu Nacional da UFRJ tem causas nitidamente identificáveis. Trata-se de um projeto de país que reduz às cinzas a nossa memória. Nós desejamos que a sociedade brasileira se mobilize junto à comunidade universitária e científica para ajudar a mudar o tratamento conferido à educação, à memória, à cultura e à ciência do Brasil.”

A Reitoria reúne-se hoje com os ministros da Educação e da Cultura e pediu uma audiência com a Presidência da República “para que os recursos necessários possam estar na Lei Orçamentária Anual de 2019”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.