Investigador português descobre nova espécie de lagarto

Num ilhéu deserto e rochoso de São Tomé e Príncipe, onde nidificam várias espécies de aves, vive um lagarto que pertence a uma espécie nova para a Ciência, agora descrita por um investigador português num artigo da revista Zootaxa. É a lagartixa-adamastor.

 

Este lagarto tem entre 9.6 e 11 centímetros de comprimento de corpo, (excluindo a cauda), corpo robusto e coloração bastante escura. A única população de lagartixa-adamastor do planeta vive apenas nos 20 hectares do ilhéu de São Tomé e Príncipe chamado Tinhosa Grande, em pleno Golfo da Guiné. Esse ilhéu rochoso, de vegetação rasteira, tem algumas das mais importantes colónias de aves marinhas da África Ocidental, com milhares de casais de garajau-escuro (Onychoprion fuscata), andorinha-do-mar-preta (Anous stolidus) e alcatraz-pardo (Sula leucogaster). Mas, que se saiba, tem pouco mais.

Por causa das condições ambientais adversas no ilhéu, e da sua pequena dimensão, não era de esperar encontrar-se vertebrados terrestres. Até Luís Ceríaco ter começado a estudar o Trachylepis adamastor, uma nova espécie para a Ciência.

Tudo começou em Lisboa, bem longe de São Tomé e Príncipe. Durante o estudo das colecções do Centro de Zoologia do Instituto de Investigação Científica Tropical foram encontrados três frascos com oito espécimes. Estavam preservados em álcool e em boas condições, sem qualquer informação para além da data e do local de colheita. Isto despertou a atenção de Luís Ceríaco, curador das colecções herpetológicas do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa, e bolseiro pós-doc da California Academy of Sciences, em São Francisco.

As etiquetas que traziam indicavam terem sido capturados nos anos 1970 e 1971 no pequeno ilhéu da Tinhosa Grande, no âmbito das últimas expedições promovidas pelo então Governo colonial português aos ilhéus da região.

 

Espécime usado para descrever a nova espécie. Foto: Luís Ceríaco
Espécime usado para descrever a nova espécie. Foto: Luís Ceríaco

 

O estudo morfológico destes animais apresentou evidências claras de que se estaria perante uma espécie nova para a Ciência. Segundo escreve o investigador no artigo, a lagartixa-adamastor distingue-se dos outros congéneres da família dos Scincídeos – uma das famílias com maior diversidade de espécies de todos os vertebrados de terrestres – por diferenças na coloração, tamanho e pela forma e características das escamas.

Além disso, pela mesma altura, aquando de uma expedição ornitológica ao ilhéu, foram fotografados espécimes vivos, confirmando a sobrevivência das populações.

O nome escolhido, Trachylepis adamastor, é uma referência ao gigante dos Lusíadas: ambos vivem numa rocha no “fim do mar” e são grandes (a espécie é uma das maiores do seu género).

A espécie habita exclusivamente nesse ilhéu a Sul da ilha do Príncipe. Por isso, pode passar a ser uma das espécies de vertebrados mais ameaçados do mundo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.