Investigador português descobre uma nova espécie de osga

Ainda há muitas espécies por descobrir. Até este ano, a Ciência não conhecia a osga-do-mato-congolesa, uma pequena osga castanha e de olhos grandes descrita agora por uma equipa de investigadores, da qual fez parte o português Luís Ceríaco.

A osga-do-mato-congolesa (Hemidactylus gramineus) não é notícia por ser demasiado grande ou pequena, por ser especialmente colorida ou por qualquer outro atributo. É notícia porque até agora não era conhecida para a Ciência.

Este réptil – do mesmo género das nossas osgas-turcas (Hemidactylus turcicus), muito comuns no sul de Portugal – vive na República Democrática do Congo, um país que será um hotspot de diversidade de répteis.

“É uma espécie de osga de pequenas dimensões, acastanhada e de hábitos terrestres. Tal como a maioria das osgas, tem olhos grandes e dedos largos”, descreveu à Wilder Luís Ceríaco, biólogo e curador-chefe do Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto.

Osga-Do-Mato-Congolesa. Foto: D.R.

A espécie, descrita num artigo científico publicado em meados de Maio na revista científica Journal of Herpetology, foi encontrada no âmbito de um trabalho de revisão taxonómica das espécies do género Hemidactylus no continente africano. Sabe-se que das 165 espécies conhecidas deste género, oito ocorrem na Republica Democrática do Congo.

A população congolesa desta nova espécie apenas é conhecida a partir de dois espécimes, colhidos em 2013 na Reserva Bombo-Lumene, no Sul do país, na província de Kinshasa. A equipa de investigadores comparou estes espécimes com 407 espécimes do género Hemidactylus guardados em vários museus de História Natural e tirou medidas, fez análises moleculares e olhou para características morfológicas e de coloração.

Com o que se sabe de momento, este herpetólogo acredita que a espécie “deve ser bastante comum no sul da Republica Democrática do Congo e certamente ocorrerá também no Norte de Angola”. Para já está confirmada para a Reserva Bombo-Lumene, situada a cerca de 150 quilómetros de Kinshasa e antiga reserva de caça, criada em 1968. Esta área protegida tem um mosaico de florestas e savana.

O nome científico da espécie “gramineus” foi dado por causa do tipo de habitat com gramíneas onde a osga foi observada e colhida.

A osga Hemidactylus gramineus é a oitava espécie de lagarto descrita para a Ciência na República Democrática do Congo na última década.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.