Foto: Joana Bourgard / Wilder

Investigadores de cetáceos, aves e líquenes ganham prémio de Ecologia

Paula Matos, Luis Silva e Marc Fernandez foram os galardoados com o Prémio de Doutoramento em Ecologia 2018 – Fundação Amadeu Dias, organizado pela SPECO – Sociedade Portuguesa de Ecologia, foi revelado na semana passada.

 

No seu segundo ano, estes prémios pretendem “valorizar o trabalho desenvolvido por recém-doutorados ao longo do seu programa doutoral” na área da Ecologia, explicam os organizadores.

Nesta edição, o júri recebeu 15 candidaturas de doutorados com teses defendidas nas Universidades de Lisboa, Nova de Lisboa, Coimbra, Aveiro, Porto, Minho e Açores. Estas foram avaliadas tendo em conta “critérios como a inovação do conhecimento para a ciência, o interesse e originalidade do trabalho e o currículo dos candidatos”.

Paula Matos, investigadora no cE3c (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas) da Universidade de Lisboa, ganhou o primeiro prémio. Esta investigadora desenvolveu um indicador ecológico global para avaliar os efeitos das alterações climáticas nos ecossistemas. Graças ao seu trabalho, os líquenes já podem ser usados à escala mundial como ferramentas de alerta precoce para os efeitos da poluição ou do clima nos ecossistemas. A proposta já foi feita às Nações Unidas, em Maio de 2017, para que os líquenes sejam incluídos na sua rede de monitorização das alterações globais nas florestas.

O segundo lugar foi para Luis Silva, investigador no CIBIO-InBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto).

Na altura aluno de doutoramento do Centro de Ecologia Funcional (CFE) da Universidade de Coimbra, Luis Silva investigou interacções ecológicas entre aves e outros grupos taxonómicos, pouco exploradas e conhecidas em ecologia. “Identificou, pela primeira vez num continente, a presença de uma guilda de passeriformes como polinizadores activos, que exploram o pólen como recurso alimentar, constituindo um verdadeiro nicho trófico do ecossistema.” Este tipo de interacção só tinha sido descrito em ilhas oceânicas.

Foi ainda demonstrado que as aves são simultaneamente dispersoras directas de esporos de fungos, isto é, transportam esporos entre flores e especificamente para locais adequados ao seu desenvolvimento. “A identificação das redes ecológicas permite desenvolver uma visão holística sobre o funcionamento dos ecossistemas e compreender a resposta funcional do ecossistema perante alterações como a introdução de espécies invasoras.” Segundo os organizadores do prémio, “este conhecimento é fundamental ao desenvolvimento de medidas de gestão e de estratégias de conservação”.

O terceiro trabalho seleccionado foi o de Marc Fernandez Morron, fascinado pelo mar e pelos animais que o habitam. Este investigador do cE3c dedicou-se a estudar os cetáceos como espécies-chave em modelos de distribuição geográfica nos oceanos. E responder a uma questão com que há muito se interrogava: num ambiente tão dinâmico como os oceanos, como podemos prever qual o padrão de distribuição geográfica de espécies marinhas como os cetáceos que, devido à sua grande mobilidade, respondem rapidamente às alterações ambientais no oceano?

“No meu doutoramento estudei o lado mais metodológico da modelação do nicho ecológico no meio marinho, em particular para perceber como a variabilidade da resolução temporal pode ser um fator muito importante”, explicou Marc Fernandez Morron, em comunicado. “Usando os cetáceos como grupo-chave e altamente móvel, detetei como para algumas espécies a variabilidade temporal é um fator essencial para descrever o seu nicho ecológico”, acrescentou o investigador, co-fundador da plataforma MONICET. Esta é uma base de dados online inaugurada em 2008, que conta com o apoio do Governo dos Açores e onde várias empresas turísticas de observação de cetáceos submetem os  avistamentos que fazem nas suas viagens.

“A metodologia proposta constitui uma ferramenta fiável a ser usada na Gestão Dinâmica dos Oceanos, sendo de grande auxílio para a designação de rotas de navios, gestão de áreas de pesca, operações de prospeção sísmica ou outros potenciais usos dos oceanos”, consideram os organizadores dos prémios.

Os prémios – no valor de 2.500, 1.500 e 1.000 euros – são atribuídos, respectivamente, ao primeiro, segundo e terceiro classificados. A cerimónia de entrega dos galardões vai acontecer no 17º Encontro Nacional de Ecologia, que irá decorrer a 15 e 16 de Novembro em Évora.

O júri dos prémios foi constituído por Maria Amélia Martins-Loução, presidente da SPECO, Ricardo Melo (coordenador do pólo de Lisboa do MARE – Centro de Ciências Marinhas e Ambientais), Margarida Reis (investigadora do cE3c), Helena Freitas (coordenadora do Centro de Ecologia Funcional da Universidade de Coimbra), Myriam Lopes (vice-coordenadora do CESAM – Centro de Estudos Ambientais e Marinhos da Universidade de Aveiro), Joaquin Hortal (Museu Nacional de Ciencias Naturales de Madrid) e João Gonçalves, administrador da Fundação Amadeu Dias.

Os vencedores da primeira edição dos Prémios, em 2017, foram Ricardo Rocha (colaborador do grupo TMB-cE3c, atualmente na Universidade de Cambridge, Reino Unido), Alice Nunes (investigadora de pós-doutoramento no grupo eChanges-cE3c) e Elsa Rodrigues do CFE – Centro de Ecologia Funcional.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.