Investigadores descobrem 11 novas espécies de rãs tropicais no Equador

 

Onze espécies de rãs tropicais foram agora descobertas para a Ciência por dois investigadores do Museu de Zoologia da Universidade Católica Pontifícia do Equador. A descoberta foi publicada na revista ZooKeys.

Estas espécies pertencem ao género Pristimantis, que apenas existe no continente americano e do qual se conhecem, até agora, 532 espécies.

O artigo científico – publicado a 1 de Agosto na revista ZooKeys por Nadia Paez e Santiago Ron, antiga aluna e professor na Universidade Católica Pontifícia do Equador – fez uma revisão taxonómica do género e descobriu 11 novas espécies de Prismantis no Equador (nas províncias de Azuay, Bolívar, Cañar, Chimborazo, Cotopaxi, El Oro, Loja, Morona Santiago, Tungurahua, Zamora Chinchipe), mais concretamente na região dos Andes.

Foto: BIOWEB-PUCE

As espécies são caracterizadas em detalhe quanto às suas características genéticas, morfológicas, bioacústicas e ecológicas.

Entre as novas espécies está a peculiar rã-tropical-multicolorida, que recebeu este nome por causa da fantástica variação de cores. Os indivíduos variam entre o amarelo vivo e o castanho escuro. Inicialmente, pensava-se que os espécimes estudados pertenciam a, pelo menos, duas espécies diferentes. Contudo, estudos genéticos demonstraram que eram da mesma espécie.

As outras espécies até agora desconhecidas receberam nomes de cientistas, que fizeram importantes contribuições nas suas áreas, ou nomes dos locais onde foram encontrados, para chamar a atenção desses locais como prioridades de conservação.

Uma das espécies descritas, a Pristimantis chomskyi. Foto: David Velalcázar, BIOWEB-PUCE

Os investigadores propõem que duas das espécies sejam consideradas Criticamente Em Perigo de extinção, segundo os critérios da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN). A rã-tropical-de-Jiménez-de-la-Espada (Pristimantis jimenezi) – que recebeu o nome de um naturalista espanhol que visitou a América do Sul entre 1862 e 1865 – apenas ocorrerá em 39 quilómetros quadrados e a rã-tropical-de-Torres (Prismantis torresi) em apenas 21 quilómetros quadrados. Ambas existirão em apenas dois locais, perturbados por povoados, agricultura e criação de gado.

Outras duas espécies deverão figurar na categoria Em Perigo de extinção, a rã-tropical-de-Totoras (Pristimantis totoroi) e a rã-tropical-de-Gloria (Prismantis gloria).

As restantes espécies têm Informação Insuficiente.

A investigação baseou-se no estudo de espécimes já recolhidos e guardados nas colecções de vários museus, incluindo do Equador, Estados Unidos e França.

O artigo surpreende por causa do elevado número de espécies descobertas. A maioria dos estudos sobre vertebrados apenas lista entre uma e cinco novas espécies por causa da dificuldade de as recolher e da enorme quantidade de trabalho envolvida na descrição de cada uma.

Esta nova espécie é a rã-tropical-multicolorida. Foto: BIOWEB-PUCE

A última vez que um só artigo tratou de um número semelhante de novas rãs descobertas no Hemisfério ocidental foi em 2007 quando o investigador espanhol Ignacio de la Riva descreveu 12 espécies da Bolívia.

Por outro lado, o artigo científico de Nadia Paez e Santiago Ron é surpreendente devido ao facto de ser da responsabilidade da tese de uma aluna, Nadia Paez, uma antiga aluna da Universidade Católica Pontifícia, com a orientação do professor Santiago Ron. Normalmente, uma publicação deste género resulta do esforço de uma grande equipa de investigadores séniores. Actualmente, Nadia Paez é uma estudante de doutoramento no Departamento de Zoologia na Universidade da Colúmbia Britânica no Canadá.

Os Andes ainda terão outras rãs do género Prismantis por descobrir, salientam os autores do artigo. Segundo estes investigadores, poderão ser descobertas “centenas de novas espécies nas próximas décadas”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.