Praia. Foto: Pexels/Pixabay

Investigadores descobrem novo tipo de lixo marinho

Chamaram-lhe plasticrusts, crostas de plástico de tons azuis e cinzentos agarradas às rochas na costa sul da ilha da Madeira.

O fenómeno foi detectado em 2016 durante uma campanha de amostragem feita pelos investigadores do MARE (Centro de Ciências do Mar e do Ambiente), do pólo da Madeira.

Foto: MARE

Foram os “estranhos tons de azul e cinzento” do lixo marinho incrustado nas rochas entremarés – que ficam submersas com a maré cheia e a descoberto durante a maré vazia – que chamaram a atenção dos especialistas.

Os investigadores analisaram essas crostas, a que chamaram plasticrusts, e descobriram que são feitas de polietileno (PE), um dos plásticos mais utilizados na indústria, especialmente nas embalagens de plástico para produtos alimentares.

De momento, os investigadores ainda desconhecem a origem concreta e o mecanismo de formação destas crostas. Ainda assim “deduzem que pode resultar da colisão de fragmentos de plástico de maior dimensão por acção das ondas e marés”, explica um comunicado do MARE. 

Certo é que a ocorrência destas crostas de plástico tem aumentado bastante desde 2016, uma das conclusões publicadas por esta equipa num artigo na revista Science of the Total Environment

“Este fenómeno está a ocorrer numa área concreta. No entanto, ainda não temos amostras de invertebrados para saber qual o impacto nas espécies marinhas e na rede trófica em geral”, explica, em comunicado, Ignacio Gestoso, líder da equipa de investigação. 

Ignacio Gestoso receia que o trabalho de limpeza destas rochas não tenha resultados, uma vez que o lixo voltaria a infiltrar-se nas rochas. Além disso, “seria bastante difícil retirar das rochas o plástico pois está bastante incrustado”, segundo o comunicado.

Os investigadores acreditam que estas plasticrusts poderão vir a ser consideradas uma nova categoria de lixo marinho.

No entanto, são necessários mais estudos sobre estas crostas, nomeadamente para para compreender que outros factores poderão estar por trás destes fenómenos.

A equipa pondera estudar regiões como os Açores, o continente ou mesmo as Ilhas Canárias, ecossistemas semelhantes aos da Madeira e locais onde se encontrem grandes concentrações de lixo para verificar a ocorrência deste fenómeno. 

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.