Cigarra Berberigetta dimelodica. Foto: Eduardo Marabuto

Investigadores portugueses descobrem duas novas espécies de cigarras em Marrocos

Uma expedição a Marrocos permitiu a investigadores portugueses descobrir duas novas espécies de pequenas cigarras. O artigo com a sua descrição foi publicado na revista Zootaxa este mês.

 

No Verão de 2014, a equipa, liderada por Paula Simões, do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Universidade de Lisboa), fez uma expedição a Marrocos à procura de cigarras. Ainda há muito a fazer para conhecer estes animais no Norte de África, especialmente a sua ecologia e os sinais acústicos que emitem para comunicar.

O trabalho de campo – no âmbito do projecto CicadaCon, que estuda a diversidade e evolução das cigarras do género Tettigettalna – permitiu a descoberta de duas espécies novas para a Ciência, a Tettigettalna afroamissa e a Berberigetta dimelodica.

 

Macho de T. afroamissa. Foto: Eduardo Marabuto

 

A Tettigettalna afroamissa é a primeira cigarra deste género a ser encontrada fora da Europa. Foi descoberta em bosques mediterrâneos nas montanhas do Rif e Médio Atlas, no Norte de Marrocos. Esta cigarra, com cerca de 27 milímetros de comprimento, tem uma canção distinta de todas as outras espécies conhecidas.

Partilhando o mesmo habitat, os investigadores descobriram uma outra pequena cigarra, a que chamaram Berberigetta dimelodica.

 

Cigarra Berberigetta dimelodica. Foto: Eduardo Marabuto

 

Os machos capturados mediam cerca de 17 milímetros de comprimento. “Existem peculiaridades interessantes no canto desta nova cigarra”, diz Gonçalo Costa, primeiro autor do estudo, em comunicado. “Ela emite um som ao comprimir o seu abdómen que nos recorda o ruído provocado pela flatulência.”

Durante a expedição a Marrocos, os investigadores recolheram os espécimes à mão ou com redes, fotografaram-nos e aos seus habitats e gravaram as suas canções. Em laboratório foram realizadas análises genéticas.

Segundo os autores do estudo, a Bacia do Mediterrânico, e especialmente a Península Ibérica, é considerada um hotspot para a biodiversidade de cigarras. Em Portugal são conhecidas 13 espécies. Mas pouco se sabe sobre as cigarras do Norte de África, desde Marrocos à Argélia e Tunísia. A maioria dos dados para o estudo vem de espécimes guardados em colecções nos museus de História Natural. Mas para algumas espécies é extremamente difícil distingui-las apenas com base no seu aspecto morfológico. É preciso ouvi-las no terreno, por exemplo.

No mundo das cigarras, apenas os machos cantam, uma estratégia para atrair as fêmeas e “convencê-las” a acasalar. As cigarras adultas emergem no Verão e vivem apenas algumas semanas. A maior parte da sua vida, entre três e 17 anos, é passada no subsolo sob a forma de ninfa, alimentando-se de raízes de árvores ou arbustos.

 

[divider type=”thick”]Agora é a sua vez.

Quer ouvir uma cigarra e saber mais sobre estes animais? Ouça o que preparámos para si.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.