Investigadores provam que mesmo os “mini-prados” podem ser habitats ricos para polinizadores

Prado de flores silvestres. Foto: Pixaline/Pixabay

Só tem um pequeno jardim? Não faz mal! Investigadores britânicos trabalharam durante dois anos com cientistas cidadãos e acabam de provar que mesmo os “mini-prados” de apenas 4mconseguem providenciar um habitat rico para polinizadores.

Para muitas pessoas, a falta de espaço é, muitas vezes, a principal razão para não criar habitats amigos da vida selvagem nos seus jardins.

Mas uma equipa de investigadores da Universidade de Sussex, no Reino Unido, com a ajuda de cientistas cidadãos de todo o país, mostraram que mesmo um espaço com apenas 4m2 de flores silvestres é suficiente para providenciar um habitat rico para os polinizadores e para suportar biodiversidade. Isso mesmo foi publicado agora num artigo na revista científica Journal of Insect Conservation.

Foto: Anne Macarthur

Durante dois anos, os investigadores Janine Griffiths-LeeBeth Nicholls e Dave Goulson trabalharam com cidadãos cientistas espalhados por todo o Reino Unido para estudar a eficácia dos “mini-prados” plantados em jardins e logradouros, usando as misturas de sementes disponíveis no mercado.

Durante Maio e Agosto foram feitas contagens e identificação de insectos por especialistas. Os resultados mostram que, no ano a seguir à plantação, os “mini-prados” albergavam, em média, mais 111% abelhões comparando com os talhões de controlo (sem esses “mini-prados” de flores silvestres). Esses habitats ricos em recursos também atraíram mais 87% de abelhas solitárias e mais 85% de vespas solitárias.

“Este projecto mostra que os mini-prados podem mesmo ajudar os polinizadores, aumentando tanto a abundância como a diversidade de insectos no jardim”, comentou, em comunicado, Janine Griffiths-Lee, investigadora da Universidade de Sussex.

“Em 1984, Inglaterra e o País de Gales tinham perdido 97% dos seus prados de flores silvestres. Há uma oportunidade para ajudar as populações de polinizadores em paisagens urbanas, assim como nas rurais mais tradicionais. Nós provámos que não precisa de muito espaço para o fazer. Pequenas zonas com flores podem atrair mais insectos benéficos em paisagens urbanas fragmentadas, apoiando a biodiversidade e os serviços de polinização”, acrescentou a investigadora e co-autora do artigo.

Os participantes neste estudo foram divididos em três grupos: um usou uma mistura de sementes de flores silvestres disponível no mercado, outro usou uma mistura formulada com base na literatura existente sobre as preferências dos polinizadores e o último grupo era de controlo, sem flores silvestres adicionais.

Prado de flores silvestres. Foto: Pixaline/Pixabay

Os investigadores ficaram surpreendidos ao perceber que a mistura mais comercial atraiu mais abelhas solitárias e abelhões, enquanto que a segunda mistura de sementes atraiu mais vespas solitárias. Os cientistas acreditam que a mais elevada abundância de vespas e abelhas solitárias nos “mini-prados” se deve, talvez, ao facto de usarem zonas mais restritas para procurar alimento.

“O cenário mais geral é que os insectos estão em declínio e precisam da nossa ajuda”, comentou Dave Goulson, conhecido investigador especializado em abelhões e autor de inúmeros livros, o último dos quais “Silent Earth: Averting the Insect Apocalypse” (Agosto de 2021).

“Este novo estudo mostra que não precisa de muito espaço para ajudar e dar o seu contributo. Se a maioria dos 22 milhões de jardins privados do Reino Unido tivessem um ‘mini-prado’ como este, isso iria fazer a diferença.”

Rainha de abelhão-comum. Foto: Ivar Leidus/Wiki Commons

E vai haver em breve uma boa janela de oportunidade. Em Maio o país celebra a iniciativa “No Mow May” para ajudar os polinizadores. Beth Nicholls, investigadora da mesma universidade e outra das autoras do artigo, espera que este estudo incentive as pessoas e as autarquias. “Mesmo pequenos talhões com flores, quer seja em jardins, logradouros ou na berma das estradas, podem beneficiar os insectos e os polinizadores.”

Já em Janeiro, um outro estudo dedicado aos polinizadores, desta vez da Universidade de Bristol, tinha defendido o papel das redes de jardins residenciais urbanos na protecção destas espécies.


Agora é a sua vez.

Saiba aqui como pode tornar o seu jardim num refúgio para os polinizadores.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.