Morcego-orelhudo-castanho. Foto: Mwolf / Wiki Commons

Já arrancou semana de conferência internacional sobre morcegos

Dezenas de especialistas em morcegos de todo o mundo, incluindo quatro portugueses, estão reunidos desde ontem em Durban, África do Sul, na 17ª Conferência Internacional de Investigação sobre Morcegos. Aqui se debate a importância destes mamíferos voadores, as mais recentes descobertas científicas e o que se está a fazer para os conservar.

 

Até 5 de Agosto, a comunidade científica internacional que estuda morcegos está reunida em Durban, a terceira maior cidade da África do Sul, localizada num hotspot de biodiversidade, a região de Maputaland-Pondoland-Albany.

Nesta conferência anual, “os investigadores têm a oportunidade de criar novas redes de trabalho, novos contactos e reforçar a cooperação”, segundo os organizadores do evento, onde serão apresentadas novas soluções e tecnologias para a conservação destes animais.

Estes mamíferos voadores prestam três serviços vitais: controlo de pragas, dispersão de sementes e polinização. Em África, onde a conferência se realiza, os morcegos raposas-voadoras têm um impacto significativo no funcionamento dos ecossistemas. Esta espécie migra de todos os lados de África até ao Parque Nacional Kasanga, na Zâmbia; os números podem chegar aos 25 milhões, segundo a Convenção para a Conservação das Espécies Migradoras de Animais Selvagens (CMS, sigla em inglês).

Durante a conferência vários investigadores vão falar dos morcegos que dispersam sementes no sopé do Monte Quilimanjaro (Tanzânia), que polinizam bromélias e ajudam as plantações de café no Malawi.

Outro tema presente nos cinco dias da conferência é o das ameaças a estes animais, desde a agricultura intensiva, à fragmentação das florestas onde vivem, aos parques eólicos – com exemplos trazidos do que está a acontecer no Japão, Honduras, Reino Unido, Austrália, Europa Central, Canadá e Porto Rico -, à luz artificial nas cidades e ao síndrome-do-nariz-branco, doença que está a dizimar milhões de morcegos na América do Norte e que continua a espalhar-se.

Na conferência serão ainda debatidas questões sobre a ecologia dos morcegos, as suas vocalizações, taxonomia e descoberta de novas espécies, evolução e diversidade.

No dia 3 de Agosto, quatro investigadores portugueses vão falar sobre morcegos. Ana Rainho (do Ce3C – Centro para a Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais) vai falar dos morcegos das Bijagós (Guiné-Bissau), Jorge Palmeirim (da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa) explicará como os morcegos conquistam as florestas tropicais montanhosas da América do Sul e Hugo Rebelo (do CIBIO-InBIO) tratará da questão da conectividade entre populações de uma espécie, o morcego-orelhudo-castanho (Plecotus auritus begognae) na Península Ibérica. Ainda no mesmo dia, Maria Ramos Pereira (da Unidade de Vida Selvagem da Universidade de Aveiro) vai falar sobre a diversidade de espécies nos neotrópicos.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Ouça aqui o som das vocalizações de morcegos numa noite de Verão na cidade de Lisboa.

Aprenda sete coisas sobre morcegos.

Descubra como se desenha um morcego, passo a passo, com a ilustradora científica Lúcia Antunes, que desenhou todas as 25 espécies de morcegos de Portugal continental.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.