Pisco-de-peito-ruivo capturado numa armadilha. Foto: Luís Ferreira

Já é proibido vender e usar armadilhas para aves

As aves selvagens portuguesas continuam a ser apanhadas pelos campos para serem animais de estimação ou para serem comidas como petisco. A partir de agora, o uso e venda de armadilhas passa a ser proibido.

Um total de 283.000 aves selvagens foram capturadas em Portugal entre 2011 e 2017 para serem vendidas como animais de companhia ou consumidas como petisco, segundo a Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA). Isto apesar de estarem protegidas pela lei nacional e europeia há 20 anos.

Pisco-de-peito-ruivo capturado numa armadilha. Foto: Luís Ferreira

Mas a 31 de Maio a legislação foi revista, através do Decreto-Lei n.º 38/2021.

Entre outras medidas, este Decreto-lei proíbe o uso de armadilhas não seletivas como visgo, costelos e laços, e também a sua comercialização.

Estes meios, como as armadilhas de mola (também conhecidas por costelos ou esparrelas), as redes e o visgo, apanham indiscriminadamente qualquer ave que neles caia, pondo em risco não só as aves mas também o equilíbrio dos ecossistemas e a saúde dos nossos campos.

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Segundo a SPEA, que recorda os “anos de trabalho junto dos grupos parlamentares” e o “apoio dos milhares de cidadãos que assinaram” a petição #ArmadilhasNÃO – assinada, até hoje, por 4.862 pessoas -, “este é um passo importante para aumentar a eficácia do combate à morte e captura ilegal de aves em Portugal”.

“Proibir a venda destas armadilhas não seletivas, que servem apenas para capturar e abater aves, é um passo importante, com o qual nos congratulamos”, comentou Joaquim Teodósio, coordenador do Departamento de Conservação Terrestre da SPEA. “Esta alteração aumenta a capacidade das autoridades em atuar perante a captura e abate de aves e dificulta a realização destas atividades ilegais”.

O próprio Tribunal Europeu de Justiça decretou no início de Março, em resposta a um pedido de esclarecimento do Conselho de Estado francês, que o uso de visgo (uma cola artesanal destinada à captura de aves) é ilegal perante a Diretiva Aves da UE.

No entanto, estes crimes passam geralmente impunes por serem difíceis de detetar e investigar. Ao proibir a venda destas armadilhas, esta alteração à lei torna mais difícil cometer este crime contra a natureza e permite às autoridades travá-lo antes de haver aves mortas ou capturadas.

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Quem vender estas armadilhas arrisca-se agora a coimas que podem chegar aos 18.000€. Ao abrigo de outra legislação já em vigor, quem capturar ou matar aves selvagens pode mesmo ser sujeito a pena de prisão, sendo considerado crime de danos contra a natureza.

Contudo, o fabrico e posse de armadilhas continuam a não ser contemplados na lei. “Quem tem estas armadilhas é porque as vai usar, e por isso teria sido positivo que a posse de armadilhas também tivesse sido proibida, mas esta alteração da legislação a proibir a venda é sem dúvida um passo importante”, concluiu Joaquim Teodósio.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.