Pelagia noctiluca, considerada muito urticante. Foto: Susana Martins
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Já existem 85 cidadãos observadores de medusas na costa portuguesa

Logo no primeiro ano, entre Fevereiro e Dezembro passados, o programa de ciência cidadã GelAVista conseguiu reunir cerca de 85 colaboradores e 187 avistamentos de organismos gelatinosos por toda a costa portuguesa. A equipa do projecto falou com a Wilder.

 

“Temos agora cerca de 85 observadores para um programa, sem muita divulgação, que teve o seu início em Fevereiro de 2016”, explicam os responsáveis pela equipa do GelAVista, coordenado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), que prevêem um “futuro promissor”.

A caravela-portuguesa (Physalia physalis) foi o organismo gelatinoso mais vezes observado (quase 40% dos avistamentos), num projecto que quer obter mais dados sobre quais são e onde andam os gelatinosos na costa de Portugal.

 

Caravela-portuguesa (Physalia physalis), considerada muito urticante. Foto: Rhalah
Caravela-portuguesa (Physalia physalis), considerada muito urticante. Foto: Rhalah

 

Ao longo de 2016, já se registaram até alguns dados curiosos. “Apesar de não se tratar de uma surpresa, o facto de a caravela-portuguesa ocorrer com tanta frequência na costa portuguesa, nos meses iniciais do ano, é algo que não estava descrito em trabalhos científicos e que queremos continuar a analisar.”

Para além da caravela-portuguesa, também a Catostylus tagi, uma medusa relativamente comum, foi das mais avistadas – ambas as espécies principalmente na região Centro, entre Peniche e Setúbal.

 

A Catostylus tagi é ligeiramente urticante. Foto: Raquel Marques
A Catostylus tagi é ligeiramente urticante. Foto: Raquel Marques

 

Entre as espécies mais vezes observadas esteve também a Chrysaora hysoscella, que no âmbito do GelAVista foi sendo avistada “ao longo de toda a costa do Algarve”.

“Ainda não podemos falar em conclusões porque os dados proporcionados por programas de ciência cidadã necessitam de uma grande quantidade de informação, a longo prazo, e de uma cobertura mais completa de toda a costa”, ressalva ainda assim a equipa.

Mas para já, é possível “ter uma ideia melhor sobre as épocas do ano em que as ocorrências de organismos gelatinosos na costa portuguesa são mais elevadas e sobre a sucessão de espécies ao longo dos diferentes meses.”

Realmente surpreendente, realçam os responsáveis do GelAVista, foi “a adesão dos cidadãos ao programa e a qualidade de informação” que fizeram chegar à equipa do IPMA. “Recebemos não só fotos de excelente qualidade, mas também informação recolhida com grande rigor científico.”

 

O primeiro encontro de participantes no GelAVista aconteceu em Dezembro
O primeiro encontro de participantes no GelAVista aconteceu em Dezembro

 

Quanto aos dados até agora recolhidos, já estão a ser utilizados para planear as próximas acções do projecto e para os conjugar com a análise de dados científicos, tendo em vista a produção de publicações científicas.

Uma das maiores apostas é também melhorar a divulgação, para que mais pessoas colaborem reportando avistamentos ou mesmo a ocorrência de não avistamentos – “igualmente importantes” – de organismos gelatinosos.

À frente do GelAVista, que se vai prolongar por vários anos, está um grupo de 12 pessoas que inclui investigadores e especialistas das áreas da ecologia do zooplâncton, oceanografia, genérica, modelação, design gráfico e gestão.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

O que deve fazer, se quiser reportar o avistamento (ou não avistamento) de um organismo gelatinoso?

Estas observações são tão importantes no Inverno como no Verão. De acordo com o IPMA, basta enviar informação sobre o avistamento para o email do projecto, [email protected]. Neste, deve incluir dados sobre a data, local, número de organismos observados e ainda uma fotografia dos mesmos, sempre que for possível.

Fique ainda a conhecer melhor quais são e onde andam os organismos gelatinosos da costa portuguesa, neste artigo da Wilder.

E pode espreitar este poster de divulgação do GelAVista, que ganhou um terceiro lugar na CommOcean 2016, uma conferência internacional da especialidade.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.