Foto: Jose Pesquero/Life Imperial

Já há sete ninhos artificiais para a águia imperial no Alentejo

A maioria das águias-imperiais (Aquila adalberti) que se reproduzem em Portugal são jovens e inexperientes e esta é uma forma de as ajudar para que os ninhos não caiam. A Wilder falou com Paulo Marques, coordenador do projecto LIFE Imperial (2014-2018), e conta-lhe tudo.

 

Colocar um ninho artificial de águia-imperial não é tarefa simples. Primeiro há que cobrir estas grandes taças, que imitam o formato dos ninhos naturais, com pequenos ramos e folhas da árvore, só para esconder a rede de metal.

 

ninho artificial colocado no chão
Foto: LIFE Imperial

 

“Mais tarde as águias podem decorar o ninho como quiserem”, diz Paulo Marques. Depois faz-se a escolha do local e a subida à árvore, que têm sido “eucaliptos muito grandes, pois são as únicas árvores grandes no Baixo Alentejo.”

 

um técnico cobre ninho artificial com ramagens, ainda no chão
Foto: LIFE Imperial

 

O escalador leva o ninho, que será fixado no topo com barras de metal, e cá em baixo uma pessoa trata da segurança e outras duas vão dando apoio. Com o trabalho concluído, é fazer figas e esperar que o ninho seja ocupado na próxima época reprodutora.

A equipa do LIFE Imperial, projecto co-financiado pela União Europeia e que trabalha para a conservação da águia-imperial no país, já instalou quatro destes ninhos artificiais – os dois mais recentes em Junho passado, um em Barrancos e outro em Castro Verde. Foram também restaurados outros três, anteriormente colocados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Em território português a águia-imperial é considerada Criticamente em Perigo, segundo o Livro Vermelho dos Vertebrados de Portugal, publicado em 2005. Extinguiu-se em 1970 e tem-se estado a dar uma lenta recolonização, com aves que chegam de Espanha. Em 2017 contaram-se 15 casais reprodutores confirmados; para este ano ainda não há dados definitivos, mas hão-de ser mais, assegura o coordenador.

Mas um problema é que muitas aves são inexperientes. “Portugal está na franja da população que vem de Espanha. Algumas das aves que ainda vão nidificar pela primeira vez vêm para Portugal, porque dispersaram em busca de um terreno livre e aqui o encontraram”, e por vezes não sabem construir bem os ninhos.

 

colocação no ninho no local
Foto: LIFE Imperial

 

Os eucaliptos são também um desafio. Escolhidos por estas aves por serem as árvores mais altas na região, a verdade é que são uma espécie exótica (da Austrália) e não seriam o local natural para nidificarem, o que torna a tarefa de construir um ninho “muito difícil.”

Resultado? “Por vezes dá-se a queda de ninhos com perda dos ovos, em especial durante as intempéries”, adianta o mesmo responsável. É para ajudar a aumentar a procriação que se estão a colocar os novos ninhos.

Aliás, em 2017 um dos ninhos artificiais já instalados foi escolhido por um casal, com bom resultado: três crias nascidas. Este ano esse ninho não foi ocupado, mas as águias “quando estão bem estabelecidas têm dois ou três ninhos no seu território e podem ir alternando entre estes, de um ano para outro.” Em média, dependendo da disponibilidade de alimentos, como o coelho, cada território tem cerca de 4.000 hectares (um hectare corresponde mais ou menos ao tamanho de um campo de futebol).

 

Mais sete ninhos até 2019

Nos planos da equipa, coordenada pela Liga para a Protecção da Natureza (LPN), está a instalação de mais sete ninhos artificiais já a pensar na próxima época reprodutora, em 2019, nas áreas de intervenção do projecto: Castro Verde, Vale do Guadiana, Mourão/Moura/Barrancos e ainda no Parque Natural do Tejo Internacional.

É em Janeiro que as águias formam casal, normalmente com os mesmos pares quando já são adultas, e o nascimento das crias acontece entre Abril e Maio. Nesta altura do ano, em Julho, “a maioria das crias estão em avançado estado de desenvolvimento e quase prontas para deixar o ninho.”

Para 2018 ainda não há dados confirmados, mas no ano passado contaram-se cerca de 15 crias de águia-imperial em Portugal – abaixo do que seria de esperar, refere Paulo Marques. Em causa esteve a falta de experiência de vários casais, que não chegaram a procriar ou perderam ninhos, e também a “pouca abundância de coelho” nalguns territórios. Mas outros casais tiveram três crias, o que ajudou a compensar.

“Estamos a tentar aumentar o número de procriações, não só com a construção das plataformas [ninhos artificiais], mas também com a distribuição de presas”, explica o mesmo responsável.

Além da LPN, o LIFE Imperial tem ainda outros sete parceiros: GNR, ICNF, EDP Distribuição, Câmara Municipal de Castro Verde, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e as espanholas SEO/Birdlife e Tragsatec, de Espanha.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Recorde como identificar as águias-imperiais e a distingui-las de outras aves de rapina em Portugal, neste artigo da Wilder.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.