Baleia-minke (Balaenoptera acutorostrata). Foto: Cephas/Wiki Commons

Japão retoma caça comercial à baleia 30 anos depois

Cinco navios baleeiros saíram hoje do porto de Kushiro, no Norte do Japão, marcando a saída definitiva do país da Comissão Baleeira Internacional. Está autorizada a caça de 227 baleias este ano.

“O meu coração está a transbordar de alegria e estou profundamente emocionado”, disse Yoshifumi Kai, presidente da Japan Small-Type Association, a dezenas de políticos, responsáveis de autoridades locais e de baleeiros que se reuniram em Kushiro, antes de os navios partirem.

“Esta é uma pequena indústria mas estou orgulhoso por caçar baleias. Na minha terra, as pessoas caçam baleias há mais de 400 anos”, acrescentou, citado pela agência AFP.

Esta manhã, outros três navios baleeiros partiram do porto de Shimonoseki, no sudoeste do país.

A Agência japonesa das Pescas informou hoje que estabeleceu uma quota máxima de 227 baleias a capturar até ao final de Dezembro nas águas da zona económica exclusiva do Japão: 52 baleias-minke (Balaenoptera acutorostrata), 150 baleias-de-bryde (Balaenoptera brydei) e 25 baleias-boreais (Balaenoptera borealis).

A caça à baleia tem sido uma batalha diplomática para o Japão, país que a defende enquanto tradição que não deve ser influenciada a nível internacional. Do outro lado, conservacionistas e governos de alguns países defendem a importância de proteger as baleias.

Enquanto membro da Comissão Baleeira Internacional, o Japão estava proibido de caçar estes animais com fins comerciais, de acordo com a moratória de 1986, mas poderia fazê-lo desde que os fins fossem para “investigação científica”.

Enquanto fez parte desta Comissão, o Japão caçou baleias alegando motivos científicos mas não escondia que a carne das baleias poderia acabar por ser vendida para consumo.

Por seu lado, os conservacionistas criticaram a validade científica da caça à baleia, lembrando que não era necessário matar os animais para obter dados científicos. 

A partir de hoje, o Japão passa a poder caçar sem prestar contas à Comissão, pondo em prática a saída deste organismo anunciada no ano passado.

“É um dia triste para a protecção das baleias a nível global”, disse Nicola Beynon, da Humane Society International.

Na última expedição “científica” dos baleeiros japoneses, que terminou em Março, foram caçadas 333 baleias-minke na Antárctida. Mas em anos anteriores, o número de baleias mortas chegou quase a 1.000 por ano. Agora, o Japão deixará de caçar na Antárctida.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.