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Jovem águia-imperial recuperou e será devolvida aos céus do Alentejo

Um problema nas penas impossibilitou este jovem macho de águia-imperial de tentar os seus primeiros voos. Depois de três meses de recuperação, será devolvido nesta terça-feira à natureza no Parque Natural do Vale do Guadiana, perto do local onde nasceu.

 

Quando tinha 70 dias de idade, a cria de águia-imperial (Aquila adalberti), uma das espécies de aves mais ameaçadas da Europa, “desenvolveu um problema nas penas que a incapacitou de efetuar os seus primeiros voos”, explica, em comunicado, o Instituto para a Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

O problema foi identificado durante a monitorização e vigilância aos ninhos feitos pela equipa do projecto LIFE Imperial (2014-2018).

Os técnicos de conservação capturaram a ave ainda no ninho, localizado no concelho de Mértola, e entregaram a sua recuperação ao Centro de Recuperação de Aves Selvagens de Lisboa (Lx-CRAS).

 

Resgate da cria. Foto: LIFE Imperial/LPN
Resgate da cria. Foto: LIFE Imperial/LPN

 

Três meses depois, as penas tinham recuperado e a jovem ave, que nasceu em Abril deste ano no Parque Natural do Vale do Guadiana, tinha aprendido a caçar coelhos, ainda que em cativeiro.

 

Juvenil. Foto: LIFE Imperial/LPN
Juvenil. Foto: LIFE Imperial/LPN

 

Na terça-feira, dia 15 de Novembro, será libertada em Alcaria Ruiva (Mértola).

Segundo o ICNF, após a libertação, a águia será acompanhada continuamente por uma equipa conjunta do ICNF, da Liga para a Protecção da Natureza (LPN) e da TRAGSATEC, no âmbito do projecto LIFE – Imperial. Além disso, se for necessário, será alimentada até se tornar autónoma.

Hoje, a águia tem seis meses. É uma das 15 crias de águia-imperial marcadas em Portugal desde 2014. Este ano nidificam em Portugal 15 casais no Tejo Internacional, Erges e Ponsul, Veiros, Castro Verde e Vale do Guadiana. Nasceram pelo menos 18 crias. Destas, 13 voaram com sucesso.

No total, existem cerca de 500 casais em toda a Península Ibérica.

A águia-imperial é uma espécie com estatuto de Criticamente em Perigo em Portugal, de onde se extinguiu nos anos 1970. Depois de uma lenta recolonização com aves vindas de Espanha, em 2013 haviam em Portugal nove casais confirmados.

O Projecto LIFE Imperial – que trabalha para aumentar a população da espécie no nosso país – está a ser implementado nas ZPE da Rede Natura 2000 de Castro Verde, Vale do Guadiana, Mourão/Moura/Barrancos e Tejo Internacional, Erges e Pônsul.

Até agora, o projecto marcou 15 águias com emissores para seguimento remoto – três em 2014, seis em 2015 e seis este ano – para os biólogos poderem seguir o percurso das aves e saber quais as zonas por onde andam e identificar quais as mais importantes.

No mês passado, o coordenador do LIFE Imperial, Paulo Marques, adiantou à Wilder o que vai ser feito nos próximos tempos. “Neste Inverno vamos apostar em força no campo, na intervenção junto de quem gere territórios, para os ajudar a compatibilizar a sua actividade com a conservação da vida selvagem”. Os cuidados a ter passam pelo fomento do habitat das presas da águia – coelho-bravo, lebre e perdiz – e evitar perturbar as aves nos períodos de reprodução.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.