Rolieiro. Foto: José Frade

Lançado novo Guia Fotográfico das Aves de Portugal

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Observar, fotografar ou aprender mais sobre as aves selvagens de Portugal acaba de se tornar mais fácil. Gonçalo Elias e José Frade lançam o Guia Fotográfico Aves de Portugal Continental, onde estão as 466 espécies que ocorrem no nosso país.

O Guia Fotográfico com 447 páginas e com um rolieiro na capa começa pelos gansos e pelos patos. Depois passa para as perdizes, codornizes, noitibós e andorinhas. A viagem pelo mundo das aves portuguesas prossegue com abetardas, sisões, cucos, cortiçóis, pombos e rolas, galinhas-d’água, grous, flamingos e tarambolas, num desfile de centenas das espécies que tornam Portugal um país mais rico e entusiasmante.

Pilritos-das-praias. Foto: José Frade

Ainda vamos nas primeiras páginas do livro e ainda nem chegámos às gaivotas, às águias, aos mochos e às corujas, aos pica-paus, aos rouxinóis, chapins ou aos pardais.

Para o fim estão guardadas as raridades como o ganso-das-neves, o êider-real, o merganso-pequeno, o goraz-coroado ou picanço-de-cauda-vermelha, todos com apenas um registo confirmado em Portugal.

Gonçalo Elias, autor e ornitólogo de 54 anos, explica à Wilder que decidiram fazer este guia porque “a maioria dos guias que existe no mercado abordam a Europa como um todo, sendo Portugal referido de uma forma muito marginal”.

“Achámos que fazia falta um guia totalmente dedicado ao nosso país, que desse o detalhe que só um guia de âmbito nacional pode dar. Por outro lado, considerando a evolução da fotografia digital, têm surgido guias fotográficos um pouco por todo o mundo, mas o nosso país ainda não dispunha de um guia deste tipo.”

Gonçalo Elias. Foto: D.R.

Para cada espécie, o leitor pode ficar a saber como identificar a ave, onde esta vive e onde a pode ver, quando ocorre e se é comum ou não. Por exemplo, fica a saber que o papa-figos (Oriolus oriolus) se identifica facilmente pelo corpo amarelo-vivo, é mais numeroso na metade interior do país (como se pode constatar no mapa que aparece na página com os distritos de Portugal), é pouco comum, é estival e tem uma envergadura de asa entre os 44 e os 47 centímetros.

O papa-figos, como todas as outras espécies à excepção das raridades, tem três fotografias que nos ajudam a identificá-lo: dois machos adultos (um pousado numa figueira e outro em voo) e uma fêmea imatura.

Gonçalo Elias explica que há três diferenças principais para outros guias de identificação de aves já publicados. “Primeiro, é um guia totalmente baseado em fotografias; segundo, é um guia feito só para Portugal Continental com conteúdos totalmente originais; terceiro, tem mapas de distribuição detalhados, nos quais foram traçados os limites distritais, de forma a ajudar os leitores a terem uma noção mais precisa da área de ocorrência de cada espécie.”

Rolieiro. Foto: José Frade

Os dois especialistas em aves selvagens começaram a trabalhar activamente neste guia no início de 2021, durante o segundo confinamento derivado da Covid-19. Ao todo, demoraram pouco mais de um ano para ter o livro, concluído, na mão.

A sessão de lançamento oficial acontece hoje, dia 25 de Maio, às 19h00 na FNAC do Colombo, em Lisboa. Mas o livro, publicado pela ARENA (chancela da Penguin Random House, Grupo Editorial) já está à venda desde meados de Maio.

O guia, explica Gonçalo Elias, “foi pensado para qualquer pessoa que se interesse pelas aves selvagens do nosso país, seja para as observar, seja para as fotografar, seja simplesmente para aprender mais acerca delas. Procurámos fazer textos de fácil leitura, que possam ser entendidos por quem está a dar os primeiros passos nesta actividade”.

Assim, podemos ler sobre a carriça (Troglodytes troglodytes) que é uma “ave de cor castanha e aspecto compacto” e é “uma das aves mais pequenas da nossa fauna. Tem uma cauda curta, que está frequentemente levantada. Esta ave raramente pousa à vista e tende a esconder-se por entre a vegetação, mas faz-se notar pelo seu canto potente e pelos chamamentos do tipo ‘metralhadora'”.

Carriça. Foto: Keith Gallie/Wiki Commons

“Por outro lado decidimos incluir os mapas de distribuição mais detalhados, pois acreditamos que isso constitui uma mais-valia, mesmo para quem já tem experiência”.

Na verdade, os mapas foram um dos maiores desafios deste guia. “Queríamos que eles fossem realmente úteis e fizessem a diferença, mas para isso seria necessário traçar mapas tão detalhados quanto possível. Esta opção obrigou a um longo trabalho de análise de informação, seguido da elaboração minuciosa de quase 300 mapas de distribuição. Foi uma parte muito trabalhosa, mas acho que valeu a pena”, comenta Gonçalo Elias, fundador e coordenador do portal Aves de Portugal.

Já para José Frade – ornitólogo, autor e fotógrafo de 56 anos -, o maior desafio foi “encontrar imagens representativas de todas as espécies que ocorrem em Portugal e por essa razão tivemos de recorrer a fotos de outros fotógrafos”.

José Frade a fotografar aves selvagens. Foto: D.R.

Nem todas as fotos do livro foram feitas em Portugal. “O objectivo principal era conseguir as fotos mais representativas de cada espécie, por exemplo, o cortiçol-de-barriga-branca, do qual não existem fotos tiradas em Portugal, por isso as que estão no livro foram tiradas em Espanha, ou o caso do airo em plumagem nupcial que são da Noruega. E claro, algumas das raridades”, acrescentou o também administrador do Grupo do Facebook Aves de Portugal Continental que hoje tem mais de 67 mil membros.

Para algumas dessas não há fotografias, como o caimão-de-allen, a franga-d’água-pequena ou o codornizão-europeu. José Frade garante que ainda as vai tentar fotografar. “Claro, assim que tenha oportunidade para isso, seja em Portugal ou noutro lugar do mundo.”

As espécies de aves para as quais foi mais difícil encontrar fotografias foram as raridades de que há poucos registos. Mas não só. As aves marinhas também constituíram um desafio. Isto “porque se tem de ir ao mar para as fotografar, algo que não está ao alcance de todos”.

Segundo José Frade, para fotografar aves selvagens é preciso “ter paciência e não desistir; o tempo e a experiência ajudam muito. E também, conhecer as aves, os seus habitats, as épocas de ocorrência, etc.”

E, de facto, muito tem mudado nas últimas décadas sobre o conhecimento que temos sobre as aves selvagens de Portugal.

uma coruja-das-torres em voo
Coruja-das-torres. Foto: Edd Deane/Wiki Commons

“A evolução dos últimos 30 anos foi tremenda e o conhecimento sobre a maioria das espécies é hoje muitíssimo maior do que era no passado”, diz Gonçalo Elias. “E é importante salientar que muito desse conhecimento resulta da contribuição de observadores e fotógrafos amadores que, com os seus registos, têm ajudado a completar o nosso conhecimento sobre os locais e as datas de ocorrência.”

“No entanto, não devemos esquecer que há ainda muito para descobrir, nomeadamente no que se refere às tendências populacionais das várias espécies, este é um aspecto no qual me parece importante investir, e isso consegue-se apostando mais na monitorização.”


AVES DE PORTUGAL CONTINENTAL – GUIA FOTOGRÁFICO

Por: Gonçalo Elias e José Frade

ARENA (chancela da Penguin Random House, Grupo Editorial)

Data de publicação: Maio de 2022

Preço de base: 33,25 euros

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.