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Lançamento: um livro de História Natural marinha que é um festim para a vista

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Pai e filho, Luís e Martim Quinta, juntaram-se para fazer o livro “Almada Atlântica, Mar da minha Terra”. Muitas horas passadas no mar e nas praias perto de onde moram, a fotografar e a desenhar, resultaram numa obra que é um festim para a vista, cheia de curiosidades e criaturas fantásticas. O livro é lançado a 14 de Abril.

WILDER: Como surgiu a ideia deste livro?

Luís e Martim Quinta: Na finalização do filme de história natural Almada Atlântica – Mar da Minha Terra, pensei em criar um projecto “irmão” do filme. Não uma obra igual ao filme, com a mesma narrativa, imagens e conteúdos, mas sim um trabalho complementar. Informação mais detalhada, uma maior diversidade de animais e uma abordagem estética muito mais vasta. Pensei no desenho de campo, a ilustração de cariz mais científico, a fotografia de acção, imagens de abordagem documental ou ainda outras formas de representação de seres vivos com técnicas pouco comuns.

Bastidores. Foto: Luís Quinta

Em conversa com o departamento de Ambiente, Clima e Sustentabilidade da Câmara Municipal de Almada (co-productora do filme), foi detalhado o projecto e iniciámos o trabalho de criação dos conteúdos. 

W: O que podem os leitores encontrar neste livro?

Luís e Martim Quinta: Este livro é essencialmente uma “viagem” pelo mundo marinho na zona costeira do concelho de Almada. O leitor pode encontrar textos que descrevem muitos detalhes e curiosidades do mundo natural que ali ocorre, ver imagens de criaturas muito interessantes e bonitas ou ainda ver pormenores de muitos animais em desenhos de um rigor científico notável.

Nestes fragmentos do mundo natural, o que está publicado, é uma pequena parte de um mar gigante que temos à porta de casa. Muito foi registado e documentado pela primeira vez, mas muito mais há por conhecer.

W: Qual o seu objectivo?

Luís e Martim Quinta: Numa obra desta natureza pensamos sempre em várias vertentes. Deixar um bom registo/trabalho do que temos perto de nós. Partilhar conhecimento relevante de muitos animais que nos são próximos e que, por vezes, desconhecemos por completo ou conhecemos muito mal!

Outra vertente deste livro é ser um objecto de deleite visual, contemplação, inspiração.

Roazes. Foto: Luis Quinta

Que sirva para quem vive na Costa da Caparica, nos arredores e em geral no concelho de Almada, ou para quem visita este território ou ainda para aqueles que nunca vieram a esta zona costeira, para que tenham orgulho na fantástica biodiversidade que aqui existe, muita dela replicada por todo o país.

W: Como está organizado?

Luís e Martim Quinta: Este livro tem dois grandes capítulos, zona costeira e mar aberto.

W: Qual a mais-valia das ilustrações? Quantas estão incluídas e de quantas espécies?

Luís e Martim Quinta: São cerca de cem ilustrações com registos estéticos diferentes e técnicas distintas. 

Bastidores. Foto: Martim Quinta

Os detalhes, a beleza de muitos animais tem outra dimensão com uma ilustração. Os pormenores são incríveis.

Há ilustrações desde as grandes baleias, a invertebrados de poucos centímetros. Peixes em estado adulto ou em estado larvar. Podemos ver com pormenor como são diferentes e belos.

W: As ilustrações são a aguarela?

Luís e Martim Quinta: Muitas ilustrações são em aguarela, talvez a maioria, mas existem outras técnicas também. Como o grafite, lápis de cor ou técnica mista em que uso duas em simultâneo, por exemplo lápis de cor e aguarela. 

Rascasso. Ilustração: Martim Quinta

W: O que este livro acrescenta ao documentário? Há material novo?

Luís e Martim Quinta: Sim! Mais detalhes, mais ocorrências, mais comportamentos. Num filme de 45 minutos há limitações a vários níveis, tempo, quantidade de informação, narrativa, ritmo, entre muitas outras características.

Num livro é o leitor que decide o tempo que quer dar à contemplação de uma ilustração. É a pessoa que escolhe o ritmo a que deseja ler o livro, voltar atrás, saltar páginas, começar a meio, ver, “digerir” a informação ou rever a mesma página instantes depois.

Tubarão-azul. Foto: Luís Quinta

W: Qual a importância de conhecermos a biodiversidade local, as espécies que nos rodeiam?

Luís e Martim Quinta: É preciso conhecer para proteger. Dar a conhecer uma história de vida pode despertar um sentimento de curiosidade, admiração, orgulho e prazer nas pessoas. Levando inúmeras vezes à vontade de ver e sentir e, desse modo, a proteger também. Mesmo vendo numa perspectiva mais antropocêntrica, conhecer as espécies, o modo como se reproduzem, em que altura, se são migradoras ou não, o que comem, é importante para que possamos moderar as nossas ações sobre as mesmas, de modo a que consigamos viver em equilíbrio com elas. 

Nudibrânquio. Foto: Luís Quinta

W: Qual o papel da fotografia de natureza e da ilustração na “criação” de naturalistas?

Luís e Martim Quinta: Estas artes visuais são ferramentas de divulgação, partilha de conhecimento, de emoções. Bonitas imagens cativam qualquer pessoa, em qualquer local do planeta. A linguagem visual é universal e o mundo natural pode ser mais acarinhado pelo ser humano com imagens esteticamente belas. Muitos naturalistas ficaram encantados com o mundo natural a ver imagens. Foram para o campo, estudar, conservar, entre muitas outras possibilidades, por terem sido “encantados” por imagens.

As imagens são poderosas ferramentas de recrutamento.

Caderno de Martim Quinta

W: Como caracterizam a biodiversidade marinha da zona de Almada?

Luís e Martim Quinta: A biodiversidade desta zona é RIQUÍSSIMA. A cada ano vamos encontrando mais animais, mais comportamentos, mais ocorrências. E se em cada ano, adicionamos mais informação sobre a zona, também temos a noção que sabemos pouquíssimo desta região. 

Apesar de este arco de litoral até ao Cabo Espichel estar muito perto da capital, Lisboa, e de existirem meios de estudo razoáveis, toda a área é pouco estudada. Há algumas publicações, alguns estudos científicos, mas muito longe do potencial de conhecimento que esta região poderia proporcionar aos cientistas, à academia. Temos um “laboratório natural” invejável que é muito pouco usado/estudado.

W: Este é o vosso primeiro trabalho a dois? Como foi trabalhar “lado a lado”? 

Luís e Martim Quinta: Os cenários, os sujeitos, os avistamentos, tudo foi tão intenso, tão belo, que é fácil criar imagens, captar fotografias. A ideia base do trabalho estava delineada, era ir fazendo caminho, complementando situações, conversando sobre ideias, etc.

Bastidores. Foto: Luís Quinta

Passámos muito tempo no mar os dois, sabemos as valências de cada um, o potencial que uma situação pode ter, quer na perspectiva do desenho, quer na abordagem fotográfica. Vemos criaturas e sabemos que num desenho terá um potencial enorme. Ou observamos um comportamento de um cetáceo e sem dúvida que uma fotografia será o documento mais valioso daquele momento.


ALMADA ATLÂNTICA, MAR DA MINHA TERRA

Por Luís Quinta e Martim Quinta

Editora: Câmara Municipal de Almada

Data da publicação: 14 de Abril

Preço: 20 €

Número de páginas: 204

Onde estará à venda: em vários locais do concelho, como por exemplo na Biblioteca Municipal de Almada e nos postos de Turismo.


Agora é a sua vez.

Três sugestões do que ver e/ou fazer para explorar a natureza desta região, por Luís e Martim Quinta:

  • Passeios de barco para observação de aves e cetáceos, desde golfinhos, às grandes baleias, como por exemplo, o segundo maior animal do planeta.
  • Mergulho, ou o chamado “snorkeling” nos esporões da Costa da Caparica, onde é possível ver grandes cardumes de peixe, sargos, robalos, ou ainda outros animais mais esquivos como os polvos ou os chocos a guardarem as suas posturas.
  • Um simples passeio na praia, ou nos esporões durante uma maré vazia podem revelar uma quantidade imensa de animais e organismos incríveis. Desde várias espécies de aves, muito para além das gaivotas, passando por espécies de peixe bem conhecidas como linguados, ou pregados, nas poças de maré, ou até outras criaturas que vêm do oceano, como as caravelas portuguesas.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.