Foto: Joana Pontes

Leitora alerta para intervenção ‘topiária’ em oliveiras de Oeiras

A leitora da Wilder Joana Pontes, professora e realizadora, escreveu-nos a lamentar uma iniciativa da Câmara de Oeiras, concelho onde mora, que decidiu fazer uma intervenção “topiária” em cerca de 100 oliveiras.  

 

Decidi-me a escrever-vos porque acredito numa cidadania participativa, embora saiba que os resultados das nossas acções podem ser poucos e susceptíveis de nos desanimar.

Moro em Miraflores, Algés. Em frente ao prédio onde vivo com a minha família há uma oliveira que veio do Alqueva, segundo apurei, juntamente com outras espalhadas pelo Concelho. Esta oliveira maravilhosa está no separador central da alameda Fernão Lopes. Todos os que atravessam a rua passam por ela. Até há uns meses tinha uma copa tão extraordinária que motivava a alegria e apreço de quem por ali passava. Envio uma imagem tirada do Google Maps feita em 2014, ainda a copa estava cerca de metade do que veio a ficar até esta Primavera.

 

oliveira numa praça urbana
A oliveira como estava em 2014. Imagem: Google Maps

 

Um destes dias, ao sair de casa, verifiquei que a copa estava toda no chão, cortada. Devo dizer que fiquei com lágrimas nos olhos, pois pensei que haviam decidido tirar a oliveira. Não parecia uma poda. Ficou apenas o tronco e uns ramos com raras folhas.

Escrevi para a Câmara de Oeiras no dia 19 de Maio. A resposta não veio. Passado bastante tempo recolheram a copa que estava no chão. A oliveira começou a recuperar e apareceram alguns tufos com mais folhas, aqui e ali. Qual o meu espanto quando percebi que haviam começado a aparar os tufos. Preparava-me para escrever novamente quando chegou a resposta da Câmara, dia 25 de Setembro, em nome do Director do Departamento de Ambiente e Qualidade de Vida. Tratava-se de uma intervenção “topiária” em cerca de 100 oliveiras do Concelho. 

Fui ver o que era exactamente esta intervenção e percebi que se trata de podar plantas em formas ornamentais. Para lá do gosto discutível de tal intervenção, parece-me inapropriado fazê-lo numa oliveira sã e tão bonita como era esta de que falo, uma árvore rústica de porte majestoso e copa frondosa. Encontro agora um tronco com alguns ramos e uns tufos de folhas que parecem prateleiras, se assim me posso exprimir. Junto uma imagem actual.

 

Foto: Joana Pontes

 

O mesmo deve estar a suceder com as outras 100 oliveiras. Considero esta acção inacreditável e triste. Na resposta da Câmara argumenta-se ainda que “esta orientação estética e paisagística poderá não ir ao encontro de todas as sensibilidades”, mas está decidido assim.

Lamento que este tipo de intervenção possa existir sem tomar em linha de conta a opinião dos moradores. Na minha opinião, fazer tal intervenção numa árvore sã e de tanta beleza revela falta de sensibilidade e de conhecimento. Haverá, talvez, outro tipo de árvores ou arbustos em que esta intervenção será harmoniosa e adequada. 

Como não sei a quem mais escrever, aqui vos deixo o meu protesto e tristeza, na esperança de que possam ajudar de alguma forma.

 

[divider type=”thin”]Agora é a sua vez.

Se, durante um passeio ou no caminho para o emprego, encontrar algo do mundo natural que o tenha marcado ou chamado a atenção, envie-nos o seu testemunho ([email protected]) – um breve texto com fotografias – para inspirar outras pessoas.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.