Leitora da Wilder fotografou, por acaso, nova espécie de flor para Portugal

A pombinha-do-guadiana (Linaria pseudamethystea), espécie descrita a 23 de Fevereiro na revista Phytotaxa, foi captada pela câmara fotográfica de Adriana Saraiva, durante um passeio em Vila Nova de Cacela.

Adriana Saraiva costuma passear na natureza com a sua família para promover a ligação à natureza. Recentemente expandiu as caminhadas em família para a criação de um movimento regular chamado “Rotinas Selvagens”.

Foto: Adriana Saraiva

“Fazemos diariamente atividades com crianças e famílias, na natureza, de forma a promover maior literacia sobre a fauna e flora, mais oportunidades das crianças terem uma infância desemparedada e com maior ligação ao meio natural que as rodeia”, explicou a leitora à Wilder.

Foi num desses passeios, a 26 de Janeiro, que Adriana encontrou e fotografou uma planta muito especial.

Foto: Adriana Saraiva

Nesse dia, contou, “houve greve de professores e fomos fazer um trilho com um grupo de crianças na zona da Corte António Martins, interior da freguesia de Vila Nova de Cacela. E foi aqui que registámos a primeira fotografia desta que nos pareceu uma flor parente das orquídeas selvagens também frequentes na zona do barrocal algarvio na altura da primavera”.

A pombinha-do-guadiana foi, até agora, confundida com outra espécie. Mas investigadores espanhóis descobriram que é, afinal, uma espécie nova, endémica do Sudoeste ibérico. A espécie ocorre apenas no sudoeste ibérico, conhecendo-se, em Portugal, no Algarve e Baixo Alentejo interior e em Espanha nas províncias de Huelva e Sevilha.

No dia em que a Wilder publicou a notícia, 28 de Fevereiro, a espécie tinha apenas cinco registos no portal Flora-on; hoje já tem 12.

Adriana decidiu fotografar a flor que o grupo tinha encontrado. “Costumamos registar momentos de encontros de diferentes espécies de plantas e animais, não só para os identificar, como para os associar à estação do ano e local onde são encontrados, aproveitando a curiosidade natural das crianças e a capacidade de aprendizagem através de experiências práticas, para consolidar conhecimentos que consideramos relevantes para o seu desenvolvimento”.

Nesses passeios, o grupo já se cruzou com aves, cobras de água, camaleões, insectos, peixes, girinos, entre outros.

Num comentário à notícia dada pela Wilder, Adriana partilhou a sua fotografia da flor e, mais tarde, a Sociedade Portuguesa de Botânica confirmou que se tratava de um exemplar da espécie em questão.

“Para nós é uma surpresa muito agradável perceber que contribuímos, para além da promoção de infâncias saudáveis para explorar na natureza a biodiversidade que parece existir à margem das zonas mais urbanizadas e turísticas do Algarve”, comentou a leitora.

“Gostamos sempre de valorizar património natural e de o trazer para o dia a dia das crianças e famílias, e saber que existem ainda espécies que continuam actualmente a ser descobertas, só mostra como a natureza tem tanto para se desvendar e que merece ser continuamente estudada, investigada. E que importa partilhar esse conhecimento para que haja respeito e vontade de proteger estes ‘pequenos tesouros’ em colaboração com as gerações futuras.”

Adriana acredita ter voltado a encontrar mais exemplares de pombinha-do-guadiana, mais concretamente “no dia 11 de Fevereiro numa outra zona, chamada “Pego dos Negros” em Castro Marim”, e a 1 de Março numa zona de curso de água na Mata da Conceição, em Tavira.

“Ao contrário do que se poderia imaginar, Portugal é ainda uma fronteira para a descoberta de novas espécies de plantas com flor. A maioria delas aguarda nos Herbários portugueses pelo taxonomista certo”, comentou a Sociedade Portuguesa de Botânica, numa nota publicada no Twitter.

“As pombinhas-do-guadiana estão agora em flor. Convidamos-vos à sua descoberta!”, desafia a Sociedade Portuguesa de Botânica.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.