Lémures de Madagáscar poderão perder a sua floresta até 2070

Até 2070, mais de 90% do habitat desta espécie poderá ser destruído, alerta um novo estudo científico publicado esta semana na revista Nature Climate Change.

Pelo menos duas espécies de lémures, animais emblemáticos de Madagáscar, poderão ver mais de 90% do seu habitat desaparecer nos próximos 50 anos por causa das alterações climáticas e da desflorestação, alertam os investigadores.

A equipa de cientistas estudou o habitat do lémur preto e branco (Varecia variegata) e do lémur vermelho (Varecia rubra), ambas as espécies actualmente classificadas como Criticamente Em Perigo de extinção pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

Os investigadores aplicaram um modelo de evolução do coberto florestal da ilha de Madagáscar – que já perdeu 44% da sua floresta desde os anos 50 do século XX – de acordo com diferentes cenários de desflorestação.

Avaliaram ainda o impacto das alterações climáticas na floresta, também consoante diferentes cenários de aumento da emissão de gases com efeito de estufa para a atmosfera.

A partir desses dados, os investigadores avaliaram as zonas que continuarão a ser habitáveis para os lémures. 

Descobriram que, até 2070, o habitat adequado para estes lémures poderá ser reduzido entre 29 e 59% por causa da desflorestação e entre 14 a 75% por causa das alterações climáticas, ou entre 38 e 93% se juntarmos as duas ameaças. 

“Faço este tipo de modelos há cerca de uma década e só duas vezes fiquei horrorizado com o que vi”, comentou Adam Smith, um dos autores do estudo e ecologista no Jardim Botânico de Missouri, à revista National Geographic.

“Ainda que as actuais áreas protegidas consigam evitar alguma desflorestação, as alterações climáticas vão reduzir as zonas habitáveis em 62%”, explicam os investigadores no artigo.

Segundo os investigadores, o desaparecimento destes lémures, “extremamente sensíveis a uma degradação do seu habitat, (…) terá, provavelmente efeitos cascata na estrutura e integridade da floresta restante”. Isto porque os lémures têm um papel crucial na reprodução de várias espécies de plantas, através da dispersão de sementes.

Este estudo pode ajudar os cientistas e decisores políticos a escolher onde melhor investir os seus esforços para conservar o habitat destes animais.

Na opinião desta equipa de investigadores, é crucial “manter e reforçar a integridade das áreas protegidas, onde as taxas de desflorestação são mais baixas”.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.