ala do jardim rodeada por árvores
Foto: Wiki Commons

Leslie derrubou 12 árvores e danificou figueira icónica do Jardim Botânico em Coimbra

O saldo da tempestade Leslie foi penalizador para as árvores do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra. Caíram 12 árvores, só na parte de cima do jardim, e inúmeras estão danificadas, incluindo a icónica figueira-estranguladora.

 

A força da tempestade, que se fez sentir durante a noite de sábado com especial intensidade no Centro do país, apanhou de surpresa os responsáveis do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra (JBUC) – até porque se previa que os ventos mais fortes se fizessem sentir mais a sul, no distrito de Lisboa.

Só na parte de cima do jardim, uma das principais áreas do espaço, “caíram 12 árvores”, disse à Wilder o director do JBUC, António Gouveia, que confessa que nunca tinha assistido a nenhuma tempestade com resultados tão fortes como esta. De resto, “há copas [de árvores] partidas quase como se fossem palitos por quase todo o jardim.”

 

ala do jardim rodeada por árvores
Foto: Wiki Commons

 

“Temos árvores tão grandes e tão antigas e que se têm mantido ao longo do tempo, talvez porque não é normal acontecerem tempestades desta natureza, e agora não resistiram, apesar dos cuidados que vamos tendo e de fazermos podas periódicas.”

Entre as árvores que caíram no fim-de-semana está, por exemplo, uma Araucaria columnaris, destaca António Gouveia. Uma espécie singular, que se pensa que terá sido plantada no jardim durante a década de 60 do século XIX, há mais de 150 anos. Tinha cerca de 40 metros de altura.

Um estudo científico recente descobriu que estas araucárias quando estão no Hemisfério Norte inclinam-se para sul, em direcção ao Equador, e no Hemisfério Sul inclinam-se na direcção inversa. Quanto mais afastadas estão do Equador, maior o grau de inclinação.

“Esta espécie não existe em muitos jardins de Portugal Continental. Tinha uma conformação particular, pois era muito inclinada, e infelizmente agora caiu.”

 

Figueira-estranguladora muito danificada

Já a figueira-estranguladora (Ficus macrophylla) do jardim, árvore “muito emblemática” pela grande circunferência da sua copa, com cerca de 100 metros, “vai ficar bastante diferente” devido aos danos causados pelo vento, admite o director do JBUC. “A figueira foi afectada na copa e ficou muito deformada.”

A mata, outra das áreas do jardim botânico, ficou também “bastante afectada”, mas a equipa liderada por António Gouveia ainda está a trabalhar na contabilização de todos os danos e prejuízos.

Em contrapartida, “uma das coisas mais incríveis foi a Estufa [Grande], onde nem um vidro se partiu, apesar de ao lado termos uma árvore que está partida.” As instalações desta estufa estiveram em obras durante vários anos e sofrerem uma remodelação profunda, tal como a exposição de plantas no interior, e voltaram a abrir ao público apenas em Março passado.

António Gouveia sublinhou ainda as “muitas manifestações de solidariedade e apoio”, de dentro e fora da universidade. “Logo ao início da manhã de segunda-feira tinhamos aqui pessoas a perguntarem o que era necessário fazer, que se puseram a limpar, a varrer e a tirar os ramos caídos e a ajudar nos trabalhos que podiam ser feitos.”

Por enquanto, prevê-se que o jardim esteja encerrado pelo menos até ao final deste mês de Outubro. Além das árvores e plantas atingidas, há também que contabilizar e reparar os danos no património, incluindo gradeamentos e outras partes do espaço apanhados por quedas de árvores e de ramos.

O Jardim Botânico da Universidade de Coimbra foi criado há cerca de 250 anos, num terreno cedido pelos frades Beneditinos.

 

[divider type=”thin”]Saiba mais.

Para saber quando terminam as obras e qual a data de reabertura, esteja atento à página do Jardim Botânico da Universidade de Coimbra no Facebook.

Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.