Libertada nas Astúrias cria de urso-pardo que tinha sido encontrada órfã

Saba foi devolvida à natureza num bosque de faias e carvalhos, depois de ter estado em recuperação desde Maio, informou hoje a Junta de Castela e Leão.

Esta cria fêmea de urso-pardo (Ursus arctos) foi resgatada em Maio nas imediações de Sabadia, na região de Santo Adriano (Astúrias). Estava órfã, sofria de mal nutrição, desidratação e alterações neurológicas.

Ao longo de seis meses, as comunidades autonómicas das Astúrias, Cantábria e Castela e Leão juntaram-se para, de forma coordenada, salvar a vida a esta cria.

Depois dos primeiros cuidados intensivos ainda nas Astúrias, a cria Saba foi levada para as instalações de recuperação da fauna silvestre de Villaescusa, do governo da Cantábria, “onde fez a recuperação completa com uma gestão especial que evitou o contacto da ursa com os cuidadores”, explica a Junta de Castela e Leão, em comunicado.

Em Setembro, o animal foi levado para um recinto em semi-liberdade em Valsemana da Junta de Castela e Leão, depois de uma avaliação veterinária que confirmou o seu bom estado de saúde. Aqui, as instalações já estavam preparadas para continuar a reabilitação do animal.

“Este aspecto foi controlado durante todo o processo para minimizar a possibilidade de que este animal se pudesse habituar à presença humana ou associá-la à alimentação, o que dificultaria a sua reintrodução na natureza.”

O último passo para a liberdade foi dado agora, com a sua reintrodução na natureza.

Esta “intensa jornada” começou cedo nas instalações de Valsemana (Leão), onde a cria estava a completar a fase de adaptação, prévia à libertação.

Uma equipa de técnicos da Cantábria, Castela e Leão e Astúrias procedeu à anestesia da cria no cercado para a realização da última avaliação veterinária e para a colocação do dispositivo de seguimento GPS.

Depois, o urso foi introduzido no seu transporte especial e reanimado antes de começar a viagem.

Durante a viagem, um sistema de monitorização em tempo real permitiu aos técnicos comprovar o bom estado do animal até chegar ao ponto de reintrodução que já tinha sido seleccionado.

Uma vez chegado a esse lugar, os técnicos libertaram Saba que se afastou e se adentrou num bosque de faias e carvalhos.

A partir desse momento, equipas coordenadas pelos funcionários do Parque Nacional dos Picos da Europa realizarão o seguimento do animal.

“Esta colaboração cumpre um objectivo muito importante de reforço do núcleo populacional oriental de urso-pardo”, salienta a Junta de Castela e Leão.

O urso-pardo foi declarada espécie Em Perigo de extinção em Espanha em 1989.

Estima-se que a população cantábrica tenha cerca de 330 ursos (280 na subpopulação ocidental e 50 na subpopulação oriental, segundo o censo de 2018).

Além da população cantábrica, Espanha tem apenas mais uma população de urso-pardo, a pirenaica. Ambas estão separadas geograficamente.

Em Portugal, esta é uma espécie extinta na natureza. Mas em Maio deste ano foi confirmada a presença de um urso-pardo, um indivíduo isolado, pela primeira vez desde 1843.


Saiba mais sobre o urso-pardo.

O urso-pardo mede entre metro e meio e dois metros. Os machos podem pesar entre 80 e 240 quilos e as fêmeas entre 65 e 170 quilos.

A população mundial de urso-pardo está estimada em cerca de 200.000 animais. A Rússia tem as maiores populações (estimadas em 120.000 ursos), seguida dos Estados Unidos (32.200, dos quais 31.000 no Alasca) e Canadá (25.000). Há ainda ursos na China e no Japão.

Na Europa, excluindo a Rússia, calcula-se que existam cerca de 14.000 ursos. No Sul da Europa, esta é uma espécie Em Perigo de extinção, com populações pequenas na Grécia, Cordilheira Cantábrica, Abruzzo, Trentino e Pirinéus.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.