Libertados mais dois linces no Vale do Guadiana

Lluvia e Lagunilla, duas fêmeas com cerca de um ano de idade, foram libertadas nesta terça-feira no cercado de dois hectares no Parque Natural do Vale do Guadiana. Em cinco meses de reintrodução da espécie em Portugal já foram libertados seis animais. Esta foi a penúltima libertação da época 2014/2015.

Os dois linces-ibéricos (Lynx pardinus) foram libertados dia 28 de Abril de manhã em solta branda, no cercado de dois hectares no concelho de Mértola, tal como as outras reintroduções anteriores, segundo um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Lluvia nasceu em cativeiro a 17 de Março de 2014. É filha de Hocico, um macho criado à mão, e de Haima, ambos de 4 anos.

Lagunilla nasceu em cativeiro em 7 de Abril de 2014. É filha de Helio, macho de 4 anos e de Fábula, fêmea de 6 anos.

Ambas nasceram no Centro de Reprodução em Cativeiro de Lince Ibérico de Zarza de Granadilla, Extremadura, Espanha.

Os últimos residentes temporários do cercado foram Loro e Liberdade. Os portões foram abertos a 16 de Abril, depois de cerca de um mês em adaptação e fixação à nova região. Segundo o ICNF, os linces tiveram “uma adaptação positiva com comportamentos normais e captura de coelhos bravos. Os animais estão a ser continuamente seguidos por técnicos e monitorizados através das coleiras emissoras de rádio”.

A reintrodução de linces-ibéricos em Portugal começou a 16 de Dezembro. Desde então foram libertados no Vale do Guadiana Jacarandá, Katmandú, Kayakweru, Kempo, Loro e Liberdade. Todos estão bem, “apresentando os comportamentos naturais da espécie”, menos a fêmea Kayakweru, que foi encontrada morta por envenenamento.

Portugal e Espanha juntaram-se para devolver o lince-ibérico aos habitats que já foram seus e conseguir, pelo menos, quatro populações viáveis: em Portugal, Andaluzia, Extremadura e Castela-La Mancha. Segundo o mais recente Censo às Populações Andaluzas de Lince-ibérico, relativo ao ano de 2014, existem hoje 327 linces-ibéricos na natureza, dos quais 97 são fêmeas e 71 crias.

O projecto de reintrodução começou na Andaluzia em 2010 e em Portugal em Dezembro de 2014 e resulta do esforço conjunto das equipas dos cinco centros de reprodução da espécie em cativeiro e das equipas que trabalham para garantir que o lince tenha um habitat para onde regressar.

Mas este é um desafio de conservação arriscado. Prova disso foi a morte da fêmea Kayakweru, nascida no Centro Nacional de Reprodução de Lince Ibérico em Silves, com dois anos de idade. A 25 de Fevereiro deste ano foi libertada no mesmo cercado de Lluvia e Lagunilla. A 12 de Março, a equipa de campo do ICNF encontrou-a morta numa zona florestal. Pouco mais de um mês depois, os resultados da necropsia e análise forense concluíram que faleceu por envenenamento. O caso está agora nas mãos dos Serviços do Ministério Publico, em Beja.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.