Macho Sismo libertado a 24 de Fevereiro. Foto: ICNF

Libertados os primeiros linces-ibéricos no Algarve

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Sismo e Senegal, com cerca de um ano de idade, foram os primeiros linces-ibéricos a serem libertados no Algarve. A reintrodução aconteceu a 24 de Fevereiro no concelho de Alcoutim. Ao todo, este ano serão libertados em Portugal cinco animais desta espécie Em Perigo.

Sismo, um macho, e Senegal, uma fêmea, foram libertados às 15h00 de dia 24 de Fevereiro numa Zona de Caça Turística privada na freguesia de Giões, concelho de Alcoutim, informou à Wilder o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Macho Sismo libertado a 24 de Fevereiro. Foto: ICNF

Ambos os linces nasceram na Primavera de 2021 no Centro de Reprodução do Lince-Ibérico de El Acebuche, em Doñana, no Sul da Andaluzia, um dos cinco centros que cooperam para reproduzir esta espécie ameaçada.

Segundo o ICNF, a libertação foi “previamente articulada e autorizada pelas respectivas proprietárias e gestoras e igualmente articulada com os autarcas locais”.

Este ano de 2022 serão libertados cinco linces-ibéricos em Portugal, duas fêmeas e três machos. Um deles nasceu no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico (CNRLI), instalado em Vale Fuzeiros, São Bartolomeu de Messines, em Silves. Os outros quatro nasceram no centro de El Acebuche e no centro de Zarza de Granadilla, na Extremadura espanhola.

Antes de Sismo e de Senegal já tinham sido libertados este ano no concelho de Serpa, no Alentejo, a 22 de Fevereiro, o macho Silves, nascido no CNRLI, e Paprika, fêmea de três anos no seguimento de uma recaptura para avaliação.

As reintroduções de linces na natureza em Portugal começaram a 16 de Dezembro de 2014, mais concretamente no Vale do Guadiana, com Katmandú e Jacarandá. O grande objectivo era restabelecer uma população selvagem autónoma, com uma diversidade genética adequada.

Agora, Sismo e Senegal foram os primeiros a serem reintroduzidos no Algarve. Ainda assim, já existem cerca de 20 linces nesta região do Sul do país mas estes são animais que para ali se deslocaram autonomamente, a partir de uma população reconstituída no Vale do Guadiana, mais concretamente nos concelhos de Mértola e Serpa. E em 2021 terão nascido no Algarve nove linces. Segundo o ICNF, ainda há “um amplo território que poderá vir a ser ocupado pela espécie”.

Estes dois linces vão agora reforçar a população da espécie em Portugal, estimada em cerca de 200 linces distribuídos por um vasto território que se estende entre os concelhos de Serpa e de Tavira.

Foto: ICNF

“Para esta situação muito positiva tem contribuído a colaboração de proprietários e de gestores de herdades e de zonas de caça, uma gestão sustentável do território, a abundância de coelho-bravo, uma atitude favorável evidenciada pela população local à presença do lince e a conectividade da população de linces do Vale do Guadiana com as presentes noutras áreas de Espanha, fundamental para o incremento da variabilidade genética.”

Todas as áreas de lince em Portugal estão agora a ser consolidadas, ampliadas e interligadas no âmbito do projeto LIFE Lynxconnect, liderado pela CAGPyDS da Junta de Andaluzia, iniciado em setembro de 2020 e que, em Portugal, congrega como parceiros, para além do ICNF, a CIMBAL e a Infraestruturas de Portugal, IP.

“A reintrodução é um processo a médio longo prazo que tem como objetivo estabelecer uma população viável e que mantenha um fluxo genético regular com outras populações de lince, restabelecendo a situação favorável à espécie.”

A pouco e pouco, o lince-ibérico (Lynx pardinus) está, assim, a regressar aos seus territórios históricos em Portugal e Espanha. O lince-ibérico é uma espécie classificada desde 22 de Junho de 2015 como Em Perigo de extinção, depois de anos na categoria mais elevada atribuída pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), Criticamente em Perigo.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.