Foto: Jose Pesquero/Life Imperial

Life Imperial faz contas aos ganhos económicos e sociais do projecto

Os efeitos de um projecto de conservação da natureza vão além dos benefícios directos para o mundo natural. É o caso deste projecto dedicado à águia-imperial-ibérica.

Mais de dois milhões de euros investidos em empresas e fornecedores de serviços, em especial a nível regional e local; apoio directo a 58 postos de trabalho e outras 12 contratações, incluindo três de técnicos especializados e nove de curta duração; integração de cinco novas pessoas na comunidade de Castro Verde.

Estes foram alguns dos benefícios para a economia e para a sociedade avaliados pela equipa do LIFE Imperial no âmbito deste projecto dedicado à conservação da águia-imperial-ibérica (Aquila adalberti), que termina no final de Dezembro. Esta ave de rapina, que se encontra apenas em Portugal e Espanha, é uma das mais ameaçadas da Europa.

“Esta avaliação, assim como a verificação dos serviços de ecossistema potenciados, pretende melhorar a compreensão da importância dos projetos de conservação da natureza ao demonstrar como a sua concretização tem impacte na região, social e economicamente, na riqueza e no valor acrescentado à área”, explicam os responsáveis do projecto coordenado pela Liga para a Protecção da Natureza.

O LIFE Imperial, co-financiado por fundos comunitários, teve início em 2014. Desenvolveu-se em quatro zonas de protecção especial (ZPE) ligadas à Rede Natura 2000, todas apontadas como prioritárias para a águia-imperial-ibérica: Castro Verde, Vale do Guadiana e Mourão/Moura/Barrancos, no Alentejo, e a ZPE Tejo Internacional, Erges e Pônsul, na Beira Baixa.

De um orçamento de quase 2,5 milhões de euros, tinham sido já investidos 87% até Agosto passado, indica uma infografia divulgada pela equipa do projecto. Desse dinheiro, 90% foi aplicado em Portugal, em especial os concelhos abrangidos pela quatro ZPE, que receberam 42,8% do valor. Outros 17% relaciona-se com contribuições e impostos pagos ao Estado.

Contas feitas, foram abrangidas 314 empresas e fornecedores de serviços, incluindo mais de uma centena nos concelhos onde decorreu o LIFE Imperial. Por exemplo? “Serviços relacionados com produção de material de educação ambiental e de divulgação, hotelaria e restauração, venda de equipamento ótico e outros materiais especializados para trabalhos de campo, manutenção de viaturas e consumíveis variados”, explicou à Wilder o coordenador, Paulo Marques.

águia-imperial em voo
Águia-imperial-ibérica. Foto: LIFE Imperial

Quanto aos postos de trabalho apoiados, “no total foram envolvidas 70 pessoas nos postos de trabalho afectos à realização do projecto ao longo de toda a duração”, indicou o mesmo responsável. “Cerca de um quarto dos postos de trabalho foram postos criados de novo e os restantes são postos de trabalho que já existiam mas que foram apoiados pela execução [do Life Imperial].”

Em causa estiveram, por exemplo, os técnicos da LPN e dos vários parceiros envolvidos na concretização do projecto e ainda os militares da GNR das equipas cinotécnicas que foram criadas.

Novo emissor desenvolvido

Outros benefícios referidos pela equipa estenderam-se ao desenvolvimento de novos produtos, como um novo tipo de emissor GPS/GSM – em fase experimental de desenvolvimento – que serviu para o seguimento remoto de 18 águias-imperiais. Dessa forma, foi possível detectar três casos de mortalidade das aves marcadas, mas também localizar alguns novos ninhos e estudar como é que se movimenta a espécie em Portugal.

Subida a um ninho para colocação de emissor numa cria. Foto: LIFE Imperial

Por outro lado, foi desenvolvido um novo modelo de correcção de linhas eléctricas – baptizado de “solução combinada” – que ajuda a evitar a electrocussão das águias-imperiais e de outras aves, e que foi instalado ao longo de 28 quilómetros.

Outro exemplo dos impactos: “A avaliação dos serviços de ecossistema fornecidos pela espécie, pelos seus habitats e pelas medidas do projecto permitiram identificar 47 serviços do ecossistema de aprovisionamento, de regulação e manutenção, e culturais”, descreve a equipa do projecto, que lembra ainda que “a presença da espécie e o seu habitat podem ser um atractivo para os visitantes e impulsionar a economia local relacionada com o turismo”.

Depois da conclusão do Life Imperial, no próximo dia 31 de Dezembro, as medidas de conservação da águia-imperial passam a ser coordenadas pelo Instituto de Conservação da Natureza e da Florestas (ICNF). Prevista está também a adopção do Plano Nacional de Acção da Águia-Imperial Ibérica, até ao final deste ano.

Além da LPN, que é coordenadora, o Life Imperial tem como parceiros a GNR, o ICNF, a EDP Distribuição, a Câmara Municipal de Castro Verde, a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, a Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO/Birdlife) e a empresa Tragsatec.


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Inês Sequeira

Foi com a vontade de decifrar o que me rodeia e de “traduzir” o mundo que me formei como jornalista e que estou, desde 2022, a fazer um mestrado em Comunicação de Ciência pela Universidade Nova. Comecei a trabalhar em 1998 na secção de Economia do jornal Público, onde estive 14 anos. Fui também colaboradora do Jornal de Negócios e da Lusa. Juntamente com a Helena Geraldes e a Joana Bourgard, ajudei em 2015 a fundar a Wilder, onde finalmente me sinto como “peixe na água”. Aqui escrevo sobre plantas, animais, espécies comuns e raras, descobertas científicas, projectos de conservação, políticas ambientais e pessoas apaixonadas por natureza. Aprendo e partilho algo novo todos os dias.