Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

Lince-ibérico atropelado no Alentejo

Um lince-ibérico macho, com cerca de um ano de idade, foi atropelado na quarta-feira à noite na zona de Mértola, no Baixo Alentejo, segundo um comunicado do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

 

Este lince, chamado Neco, tinha sido libertado apenas horas antes no Vale do Guadiana, no âmbito do Iberlince, projecto ibérico de reintrodução em curso para ali criar uma nova população desta espécie Em Perigo de extinção. Segundo o ICNF, o núcleo de linces do Vale do Guadiana tem hoje sete fêmeas reprodutoras e está “em fase de estabelecimento e consolidação”.

Quarta-feira, perto da meia-noite, Neco foi encontrado por um morador na estrada municipal entre Mértola e Corte Gafo de Cima. Tinha uma coleira rádio-emissora, como acontece com todos os linces reintroduzidos na natureza.

O ICNF foi contactado e o lince, com sinais de morte recente, foi recolhido cerca das 00h30 por uma vigilante da natureza do Departamento de Conservação da Natureza e Florestas do Alentejo. Agora, o animal será reencaminhado para necropsia “para apuramento de todos os factores potencialmente associados à sua morte”, avança o ICNF em comunicado enviado à Wilder.

Neco nasceu na Primavera de 2016 no Centro de Reprodução de Zarza de Granadilla, na Extremadura espanhola. Este lince, hoje com 12,7 quilos, tinha sido libertado na manhã desse mesmo dia 17 de Março, numa propriedade privada no centro do Parque Natural do Vale do Guadiana. Segundo o ICNF, essa zona, próxima do rio Guadiana, tinha uma elevada densidade de coelho-bravo, a principal presa do lince-ibérico.

“Até à estabilização de um território e durante a fase de dispersão, os linces são mais vulneráveis, em particular à mortalidade por atropelamento”, explica o ICNF. “Também os movimentos regulares de patrulha de um território definitivo que pode ter cerca de 10 quilómetros quadrados implicam deslocações dos linces.”

No ano passado, o atropelamento foi a causa mais frequente de mortalidade para esta espécie, segundo o censo de 2016. Treze linces morreram na Andaluzia, um em Castela-La Mancha e um em Portugal. Foi o caso de Kentaro, que morreu a 15 de Outubro de 2016 numa estrada do concelho da Maia.

A população mundial de lince-ibérico (Lynx pardinus), espécie Em Perigo de extinção, está estimada em 483 animais. Um dos desafios à conservação da espécie é o atropelamento de animais. Desde Dezembro de 2014, no mesmo mês em que começaram as reintroduções de linces em Portugal, foram instalados oito sinais de trânsito na região do Vale do Guadiana para avisar os condutores que estão a circular na área de reintrodução do lince-ibérico.

Estes sinais – triângulos brancos e vermelhos, com a cabeça do felino a preto – estão na EN122 e na ER267, sinalizando troços com uma extensão que varia entre os quatro e os nove quilómetros.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.