Mel espreita viatura. Foto: Técnico/ICNF/LIFE Iberlince

Lince-ibérico encontrado morto nos campos de Mértola

Opala, uma fêmea que com quase dois anos de idade, foi libertada em Mértola há nove meses e já teria estabelecido ali o seu território. As causas da morte ainda são desconhecidas.

O lince-ibérico foi encontrado a 9 de Janeiro na área do Parque Natural do Vale do Guadiana. “A equipa de monitorização do ICNF detetou o animal morto em avançado estado de decomposição, através do sinal VHF de rádio da coleira emissora”, informou hoje o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), em comunicado.

Neste momento, a GNR está a proceder à investigação das causas da morte de Opala, depois de ter estado no local a recolher amostras e a fazer o levantamento do caso.

Esta fêmea nasceu na Primavera de 2017 no Centro de Reprodução de La Olivilla, na Andaluzia, em Espanha. A 15 de Março do ano passado foi libertada na zona de Corte Gafo, concelho de Mértola, para reforçar o núcleo populacional de lince-ibérico do Vale do Guadiana.

Actualmente vivem no único núcleo populacional conhecido em Portugal 11 fêmeas territoriais reprodutoras, segundo o ICNF.

Opala tinha sido detectada pela última vez em Setembro de 2018, “aparentando ter estabelecido um território na zona em que agora foi encontrada”.

Os técnicos dedicados à reintrodução de lince ibérico – iniciada em 2015, no âmbito do projeto LIFE Iberlince (LIFE+10/NAT/ES/000570) – acompanham os linces na natureza através de telemetria e foto-armadilhagem, que permite identificação individual de todos os exemplares. Este trabalho de seguimento já permitiu detectar 45 crias já nascidas na natureza no Vale do Guadiana.

A conservação do lince-ibérico (Lynx pardinus), espécie Em Perigo de extinção, procura recuperar a sua  distribuição histórica e “conseguir uma coexistência harmoniosa entre atividades humanas sustentáveis e a viabilidade deste felino selvagem, a longo prazo”.

Com o registo do caso da morte de Opala, a taxa de sobrevivência dos animais reintroduzidos em Portugal situa-se nos 72%, segundo o ICNF.

A 2 de Janeiro, o lince Mistral foi encontrado atropelado na estrada nacional 122, a cerca de 10 quilómetros de Mértola.

O projecto de conservação do lince-ibérico, o LIFE Iberlince (2011 – 2018) terminou em Dezembro passado. Neste momento está a ser preparada uma nova candidatura ao programa LIFE com parceiros de Portugal e Espanha, “que permitirá consolidar os objectivos da reintrodução e da presença de lince como espécie de topo e peça de equilíbrio dos ecossistemas mediterrâneos”.

O lince-ibérico tem tido uma história atribulada. No século XIX a população mundial da espécie estava estimada em cerca de 100.000 animais, distribuídos por Portugal e Espanha. Mas no início do século XXI restavam menos de 100. Então, os dois países juntaram-se para recuperar habitats e reproduzir animais.

Actualmente, a população mundial de lince-ibérico está estimada em 589 animais (448 dos quais na Andaluzia), de acordo com os dados do censo de 2017. O censo de 2018 está neste momento em curso. Mas, de acordo com os dados provisórios fornecidos à EuropaPress pelo Ministério espanhol para a Transição Ecológica, em 2018 terão nascido 125 linces; o número total de linces deverá subir até aos 650 indivíduos.

 

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Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.