Lince Mistral. Foto: ICNF

Lince-ibérico encontrado morto perto de Mértola

Mistral foi encontrado atropelado na estrada nacional 122, no mesmo local onde outro lince tinha morrido em Maio passado. Este será um ponto negro de atropelamentos para esta espécie, segundo o ICNF.

 

Este macho de lince-ibérico foi encontrado ontem, dia 2 de Janeiro, a cerca de 10 quilómetros de Mértola, junto à Herdade da Cela, com sinais de atropelamento, segundo um comunicado divulgado esta tarde pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). O animal foi recolhido cerca das 09h00 pela equipa de monitorização do ICNF sediada no Parque Natural do Vale do Guadiana.

Mistral nasceu em 2015 no Centro de Reprodução em Cativeiro de Lince Ibérico de Zarza de Granadilla, em Espanha e foi libertado no concelho de Mértola a 13 de Maio de 2016. Fazia parte do grupo de animais reintroduzidos na natureza, para ajudar a consolidar a população selvagem do Vale do Guadiana.

Segundo o ICNF, “Mistral fixou-se na Herdade da Cela onde manteve um território de cerca de 10 km2 e terá acasalado duas vezes com a fêmea Moreira, sendo o provável progenitor de quatro crias”.

Este foi o quarto atropelamento de linces libertados no Guadiana, desde 2015, e o risco de atropelamento continua a ser uma ameaça para a espécie em toda a Península Ibérica, salienta o instituto responsável pela conservação da natureza em Portugal.

Apesar disso, a taxa de sobrevivência dos exemplares reintroduzidos do projeto LIFE+ Iberlince em Portugal está estimada em 75%.

O local onde Mistral foi encontrado, o mesmo onde outro lince, Olmo, morreu atropelado em Maio de 2018, fica então assinado como um ponto negro de mortalidade para a espécie. Segundo o ICNF, isto significa que este é “um local onde ocorrem travessias recorrentes de animais selvagens, entre áreas de habitat natural adjacente, e apresentando condições que propiciam o atropelamento”.

 

Apesar de tudo, 2018 foi um ano “favorável ao lince em Portugal”

No mesmo comunicado, o ICNF lembra outras mortes, concretamente duas fêmeas afogadas no concelho de Serpa e uma fêmea atropelada entre Tavira e Olhão, além do macho Olmo atropelado em Mértola.

Ainda assim, 2018 foi um bom ano para este felino, muito graças à colaboração de “proprietários e das zonas de caça, a uma gestão sustentável do território, à abundância elevada de coelho-bravo e a uma atitude favorável à presença do predador”.

Nasceram 29 crias na natureza no nosso país e há 11 fêmeas reprodutoras estabilizadas. Isto faz do Vale do Guadiana “uma das áreas de reintrodução com maior sucesso a nível ibérico”.

“O núcleo populacional apresenta um franco crescimento, já com fêmeas aqui nascidas em 2016 a reproduzir, o que permitirá a existência de uma população viável a longo prazo.”

Outra boa notícia é que se confirmou a ligação da população do Vale do Guadiana a outras áreas em Espanha, um dado “fundamental para a manutenção da variabilidade genética”. “Não só Mundo, um macho oriundo de Doñana, reproduziu novamente este ano em Serpa, como Nairobi, uma fêmea com a mesma origem, fixou-se no concelho de Mértola.”

Lítio, um macho de quatro anos, originalmente libertado em Mértola, foi encontrado perto de Barcelona, numa zona sem congéneres e após ter percorrido uma distância de cerca de mil quilómetros. “Este macho, capturado e libertado novamente no Vale do Guadiana, encontra-se hoje com um território estabilizado e junto a uma das fêmeas residentes.”

O projecto de conservação do lince-ibérico, o Iberlince (2011 – 2018) terminou em Dezembro passado. Neste momento está a ser preparada uma nova candidatura ao programa LIFE com parceiros de Portugal e Espanha, “que permitirá consolidar os objectivos da reintrodução e da presença de lince como espécie de topo e peça de equilíbrio dos ecossistemas mediterrâneos”.

 

[divider type=”thick”]Precisamos de pedir-lhe um pequeno favor…

Se gosta daquilo que fazemos, agora já pode ajudar a Wilder. Adquira a ilustração “Menina observadora de aves” e contribua para o jornalismo de natureza. Saiba como aqui.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.