Lince-ibérico. Foto: Programa de Conservação Ex-Situ do Lince-Ibérico

Lince nascida em Silves foi mãe de quatro crias em liberdade

Kuna nasceu no Centro Nacional de Reprodução do Lince-ibérico (CNRLI), em Silves, e aí foi treinada para a liberdade. Hoje, técnicos espanhóis anunciaram que esta fêmea, a viver na natureza há ano e meio, é mãe de quatro crias saudáveis nos campos de Montes de Toledo (Castela-La Mancha).

 

A confirmação foi anunciada hoje pelos técnicos do Iberlince – programa ibérico para recuperar a distribuição histórica de lince-ibérico em Portugal e Espanha. Através das imagens captadas pelas várias câmaras de foto-armadilhagem instaladas na zona, os técnicos descobriram uma ninhada de quatro crias, que terão 45 dias de idade.

As crias foram vistas junto a Kuna, fêmea de lince-ibérico nascida na Primavera de 2013 no centro de Silves, uma das 17 crias nascidas nesse ano no CNRLI.

 

Foto: Iberlince
Foto: Iberlince

 

Kuna foi libertada nos Montes de Toledo a 26 de Novembro de 2014, juntamente com Kahn e Kentaro, machos que também nasceram no centro de Silves. Estes três foram os primeiros linces nos Montes de Toledo depois de mais de 15 anos sem presença comprovada da espécie.

Hoje, perante a ninhada de quatro crias de Kuna, a Consejería de Agricultura, Medio Ambiente e Desarrollo Rural considera este um feito “muito positivo para a conservação desta espécie que não se reproduzia nos Montes de Toledo desde várias décadas”, segundo um comunicado. No seu entender, esta ninhada vem confirmar a “excelente adaptação ao meio dos exemplares dos centros de reprodução em cativeiro, assim como as boas condições naturais dos Montes de Toledo para albergar de novo a espécie”.

A 28 de Abril, o programa Iberlince tinha já anunciado o nascimento de outras quatro crias na mesma região dos Montes de Toledo. Estas são crias de uma outra fêmea nascida em cativeiro, Keres, no centro de Granadilla (Cáceres).

Actualmente são cinco os centros de reprodução de lince em cativeiro; o CNRLI é o único em Portugal. Desde 2009, ano em que abriu portas, já ali nasceram mais de 70 linces.

No início do mês passado, o mais recente censo às populações de lince-ibérico revelou que, em 2015, existiam pelo menos 404 linces a viver na natureza na Península Ibérica, um número superior aos 327 registados em 2014. Nos Montes de Toledo existiam em 2015 oito linces, quatro deles fêmeas territoriais.

 

[divider type=”thick”]Saiba mais.

Série Como nasce um lince-ibérico
Uma equipa da Wilder esteve dois dias no CNRLI em Março do ano passado e assistiu ao último parto da temporada, ao lado de veterinários, tratadores, video-vigilantes e voluntários. Estamos a publicar uma série de reportagens onde lhe contamos como é o trabalho naquele centro e quem são as pessoas por detrás da reprodução em cativeiro desta espécie.

Helena Geraldes

Sou jornalista de Natureza na revista Wilder. Escrevo sobre Ambiente e Biodiversidade desde 1998 e trabalhei nas redacções da revista Fórum Ambiente e do jornal PÚBLICO. Neste último estive 13 anos à frente do site de Ambiente deste diário, o Ecosfera. Em 2015 lancei a Wilder, com as minhas colegas jornalistas Inês Sequeira e Joana Bourgard, para dar voz a quem se dedica a proteger ou a estudar a natureza mas também às espécies raras, ameaçadas ou àquelas de que (quase) ninguém fala. Na verdade, isso é algo que quero fazer desde que ainda em criança vi um documentário de vida selvagem que passava aos domingos na televisão e que me fez decidir o rumo que queria seguir. Já lá vão uns anos, portanto. Desde então tenho-me dedicado a escrever sobre linces, morcegos, abutres, peixes mas também sobre conservacionistas e cidadãos apaixonados pela natureza, que querem fazer parte de uma comunidade. Trabalho todos os dias para que a Wilder seja esse lugar no mundo.